Em 1957, W. Bion publica o artigo Diferenciação entre personalidade psicótica e não-psicótica, onde admite a existência de uma personalidade psicótica em coexistência paralela à personalidade não-psicótica. Tal como M. Klein, Bion considera que a personalidade psicótica constitui a mente nos seus primórdios, no início da vida. Com um desenvolvimento saudável, a personalidade não-psicótica predominará sobre a parte psicótica. E a chave da diferenciação das duas está num excesso: Excesso de identificação projetiva. Trata-se, grosso modo, de uma desarmonia, já que é no equilíbrio entre estas duas partes que se encontrará a personalidade saudável.
Neste artigo, os termos mais usados para descrever a parte psicótica são: Invadido, atacado, torturado, destrutividade, doloroso, fuga, expelir, coisa inanimada, cisões, ataque a elos de ligação, aglomeração, compressão, que, no geral, traduzem a ausência de forças de harmonia e criação. O que Bion (1994) descreve da observação destes pacientes psicóticos é, no fundo, um aprisionamento onde não existem forças de criação (forças de vida): “... o paciente atinge um estado em que, no seu sentir, ele nem está vivo, nem tão pouco morto” (p. 50). As forças de vida impulsionam à ligação. E, neste sentido, Bion regista a falta de ligação mesmo ao nível de elementos mais arcaicos que poderiam dar origem ao pensamento verbal, porque esses elos são como que atacados pela identificação projetiva. Assim, a articulação e a formação de novos objetos mentais é impossibilitada. O paciente, refere Bion (1994), “… como se desfez daquilo-que-une (da sua capacidade de articular), sente que os métodos de síntese de que dispõe estão enfraquecidos; consegue comprimir, mas unir não; pode con-fundir mas, articular, não” (p. 65). E deste modo, a vida mental fica povoada de objectos inanimados sem vida, sem movimento, sem articulação, nem associação, logo, sem transformação. Sem criação.
Neste artigo, Bion descreve cuidadosamente a personalidade psicótica, mas é bem visível que não o faz com idêntico rigor em relação à parte não-psicótica. Situamo-nos aqui para lançarmos a seguinte questão: Porque é que a parte da personalidade supostamente saudável recebe a denominação de “não-doente”? Apesar de Bion ter desenvolvido, na obra posterior, o funcionamento da personalidade não-psicótica e o equilíbrio entre as duas partes, não é nosso
intuito analisá-lo agora. Vamos antes em busca de outros pensamentos, nomeadamente, de três filósofos, Hans-Georg Gadamer, Henri Bergson e Gaston Bachelard para pensarmos na parte saudável da personalidade. No final, chegaremos à criação. Chegaremos ao ponto de afirmar que a personalidade saudável é criadora e veremos como isto tem tudo a ver com o tempo.
Todos os que trabalham na área da saúde mental já estudaram, de forma mais ou menos sistematizada, os fenómenos da doença, da desorganização, do desequilíbrio. Isto porque a doença pode ser estudada, descrita, classificada, o que dá origem a novos conhecimentos sobre as formas de a tratar. Mas com a saúde é muito mais difícil, porque a saúde é de outra ordem.
A este propósito diz-nos Gadamer (2009) que a saúde é verdadeiramente estranha, é um milagre: “(…) o estranho não é tanto a doença quanto o milagre da saúde” (p. 101). E a doença é como um azar que nos acontece, mas que pode ser objectivado, estudado:
(…) é a doença, e não a saúde, que se auto-objectiva, quer dizer, que aflora, que importuna. Quase me atreveria a afirmar que, pela sua essência, a doença é um “caso”... “caso” é o que nos cabe por azar no jogo da vida (p. 104).
Mas a saúde permanece um mistério! “Mas que é, na realidade, a saúde, essa misteriosa entidade que todos conhecemos e que, de alguma maneira, também desconhecemos, devido ao carácter quase milagroso de estar são?” (p. 107).
Gadamer apresenta algumas propostas para levantar os véus deste mistério: Propõe um “movimento vital” para a saúde: “A função da dor na vida é a de assinalar uma perturbação no equilíbrio desse movimento vital, em que a saúde consiste” (p. 105). Propõe também a ideia de equilíbrio, uma harmonia especial: “(…) uma harmonia oculta, cuja recuperação é o que importa e na qual radicam, em definitivo, o milagre da convalescença e o mistério da saúde”
(p. 111). No entanto, Gadamer não nos dá respostas mais definitivas para compreender este milagre, este mistério. Acaba, aliás, com mais interrogações:
Não é estranho que a saúde se oculte de uma maneira tão peculiar? Talvez se deva afirmar que, como indivíduos saudáveis, somos permanentemente sustentados por um estrato mais profundo do nosso inconsciente, por uma espécie de bem-estar. Mas também este surge como oculto. Será o ‘bem-estar’ realmente algo ou, em definitivo, não passará da ausência de dores e do mal-estar? Poderá imaginar-se um estado permanente de bem-estar? (p. 125).
Teremos um estrato mais profundo do nosso inconsciente que nos confira o bem-estar, a saúde, e que nos dê uma espécie de suporte à parte não-psicótica da personalidade?
Estamos cientes que esta questão não tem uma resposta directa, mas podemos ir um pouco mais fundo na sua reflexão. Para tal, vamos analisar o que dizem dois filósofos franceses, Bergson e Bachelard que fazem uma ligação entre o Tempo e a Criação. Veremos a Criação como fenómeno que contempla o “movimento vital” e a “harmonia oculta” de que fala Gadamer, mas que vai mais fundo: ela é condição de vida e de transformação.
Começamos com Henri Bergson. Este filósofo tem uma obra notável, premiada pelo Nobel da literatura em 1926 pela sua magnífica qualidade literária. Bergson fez uma filosofia da vida com conceções originais sobre a matéria, memória, inteligência, instinto, intuição. Para entendermos o conceito de criação é necessário que estejamos familiarizamos com a sua tese sobre o tempo.
Em 1889 Bergson escreveu Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, onde faz esta afirmação espantosa (Bergson, 1927/2011): “O tempo... é um fantasma do espaço” (p. 80). É uma afirmação que sintetiza a sua grande tese sobre o tempo. O que Bergson quer dizer aqui é que o tempo insinua-se no espaço, mas não o ocupa verdadeiramente, porque enquanto que o espaço é delimitado, o tempo não tem limites. O tempo escorre continuamente. Portanto, no espaço, o tempo não passa de um fantasma. Mas nós conhecemos bem este fantasma. Basta olhar para um relógio ou um calendário. Este tempo é mensurável no espaço. E nós passamos a vida a medir o tempo. Mas, se pensarmos bem, será que o tempo da nossa consciência é o mesmo tempo dos relógios? Claro que não. Todos nós sabemos que na nossa experiência, o tempo pode dilatar-se ou encolher-se e que um pequeno momento pode durar uma eternidade.
Temos então o tempo do espaço, o Cronos, e o tempo da nossa consciência que Bergson designa por “duração” (durée), e este é o tempo verdadeiro. Não é o fantasma, é ele próprio. No espaço, duas coisas não podem ocupar, ao mesmo tempo, o mesmo lugar. Na consciência, podemos ter várias sensações simultâneas. Na nossa consciência, um simples facto pode reflectir a nossa alma inteira. O que é extensivo, o que está no espaço, é mensurável. É quantidade. Os estados de consciência são qualidades.
E quais as características desse tempo, que só a nossa consciência pode apreender? É contínuo. Bergson diz que a essência do tempo é passar, e isso significa que só pode ser apreendido na passagem e não na paragem. E o facto de ser contínuo quer dizer que é interpenetrado. Por exemplo, na vida íntima da consciência tudo parece acontecer ao mesmo tempo: Ideias do passado, presente e futuro misturam-se; Sentimentos, sensações, paixões, fundem-se uns nos outros.
Mas embora a nossa consciência aceda a este tempo puro - a duração - a verdade é que estamos sempre contaminados com o tempo cronológico. Mas depois ficamos espantados por vivermos estados no interior da consciência que são impossíveis de projectar no espaço. Por exemplo, um sentimento forte como uma grande alegria, parece-nos, com ou sem razão, bastar-se a si próprio, como se tivesse vida própria. Vejamos este exemplo que Bergson (1927/2011) nos dá:
(...) na alegria extrema, as nossas percepções e recordações adquirem uma qualidade indefinível, comparável a um calor ou a uma luz, é tão nova que, em certos momentos, ao reflectirmos sobre nós mesmos, experimentamos como que um espanto por existirmos (p. 18).
E isto gera um conflito. O conflito é entre o tempo no interior da consciência e o tempo fora da consciência. Entre um Eu interior e um Eu exterior. Bergson (1941/2011) diz que temos um Eu interior ou Fundamental, que vive a duração, e um Eu superficial que vive o tempo do espaço:
O eu interior, o que sente e se apaixona, o que delibera e decide, é uma força cujos estados e modificações se penetram intimamente... e sofrem uma alteração profunda quando os separamos uns aos outros para os desenrolar no espaço (p. 99).
Portanto, quanto mais profunda e íntima é uma vivência, mais difícil é decompô-la como coisas ao lado umas das outras com distinções bem marcadas; Quanto mais se desce nas profundidades da consciência, menos se tem o direito de tratar os factos psicológicos como coisas distintas, separados uns dos outros, ou mesmo arrumados numa teoria.
E a grande dificuldade surge quando queremos falar dessa experiência. Como decompor por palavras uma alegria ou uma dor? As palavras estão tão bem alinhadas umas ao lado das outras! Como aliás, os objectos do espaço (Bergson, 1927/2011):
(...) as palavras, as nossas percepções, sensações, emoções e ideias apresentam-se sob um duplo aspecto: nítido, preciso, mas impessoal; o outro confuso, infinitamente móvel e inexprimível, porque a linguagem não o pode captar sem lhe fixar a mobilidade, nem o adaptar à sua forma banal sem o fazer cair no domínio comum (p. 101).
A palavra como que esmaga as subtilezas impressivas e fugazes de um sentimento! A partir do momento em que nomeamos uma sensação, um gosto, eles tornam-se coisas, como diz Vergílio Ferreira em Aparição: “Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir em palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras” (p. 38).
A originalidade de um sentimento tem este preço. O preço de não ser possível decompor, imobilizar, banalizar com palavras: “Ei-nos, pois, perante a sombra de nós mesmos: Julgamos ter analisado o nosso sentimento, mas, na verdade, substituímo-lo por uma justaposição de estados inertes, traduzíveis por palavras” (Bergson, 1927/2011, p.103). Pobre Eu Fundamental que nós somos: É o EU que vive na durée, no fluxo, no devir, que é penetrado infinitamente por uma imensidão de estados, mas que não pode exprimir-se por objetos que permanecem no espaço, nem pela métrica das palavras. Poderá aproximar-se pelo sonho e pela rêverie. Poderá também exprimir-se pelas palavras poéticas, metafóricas, capazes de nos transportar num embalo contínuo, porque essas palavras contêm dentro de si, uma criação inesgotável.
Esta pequena introdução à tese de Bergson sobre o tempo é importante para entendermos outra tese fundamental onde sustenta que a duração está ligada à criação. Enquanto o tempo como duração é criador porque muda permanentemente, já o tempo no espaço é o da repetição dos mesmos fenómenos que envolvem as leis físicas.
Esta tese vem na obra publicada em 1907, A Evolução Criadora, onde nos oferece esta ideia tão bela como enigmática: “Se existe finalidade no mundo da vida, ela envolve a vida inteira num único abraço indizível” (Bergson, 1941/2001, p. 49). Quer isto dizer que a unidade da vida não pode ser observada em todas as suas partes. A vida é uma totalidade que tem uma finalidade única que é ser vivo. A vida vem de uma força única e original de organização, que é totalmente criadora e que nos é dada de uma vez por todas. Assim que nascemos ficamos vivos para sempre, mas essa força não é Deus porque é limitada, acaba com a morte. A essa força Bergson (1941/2001) designou de élan vital: “O élan vital... consiste, em suma, numa exigência de criação” (p. 225).
Criação, para Bergson, quer dizer fluxo incessante de acontecimentos sempre novos. Então, a vida, a existência, e o élan vital que as sustenta, é mudança permanente. Elas são novidade incessante: “(…) mudo incessantemente. Mas dizer isso não basta. A mudança é muito mais radical do que, em princípio, se poderia supor” (Bergson, 1941/2001, p. 13); em boa verdade, “Um Eu que muda também não perdura” (p. 15). Trata-se de uma mudança radical, de um fluxo absolutamente novo, que ocorre pelo “simples” facto de estarmos vivos.
Mas Bergson foi criticado em várias frentes. Teve um sério confronto com Einstein, em 1922, porque ao advogar o tempo como absoluto, Einstein contrapôs com o tempo relativo. Bergson respondeu dizendo que se tratavam de tempos diferentes (o tempo da física e o tempo da metafísica) mas, ainda assim, ficou algo descredibilizado. Mais tarde, deu-se um renouveau da sua obra e das teses sobre o tempo quando L. De Brouglie relacionou, em 1941, o tempo não mensurável de Bergson com os fenómenos quânticos.
Da parte da filosofia também foi criticado por sustentar uma ontologia do pleno e uma totalidade do devir. E um dos críticos mais acérrimos foi Bachelard para quem a existência é sempre desenraizar, retomar, recomeçar, não de forma contínua, mas repentina. A grande crítica de Bachelard a Bergson vem na obra A intuição do instante, escrita em 1932, onde contrapõe à tese da duração, a tese de que o tempo é instante. Um instante suspenso entre dois nadas. O tempo, para Bachelard, não é, portanto, uma duração contínua, é instante descontínuo. E Bachelard (1932) não tem qualquer hesitação em se opor à tese da Duração do seu conterrâneo, no seu estilo bem provocador: “Só a preguiça é duradoira, o acto é instantâneo” (p. 23).
Apesar disso, Bachelard, tal como Bergson, também considera as implicações psicológicas da apreensão do tempo e, se para Bergson, a consciência é a consciência da duração, para Bachelard (1932), a consciência é a consciência do instante:
(…) se o nosso coração fosse suficientemente grande para amar a vida nos seus detalhes, veríamos que todos os instantes são por sua vez doadores ou espoliadores e que uma novidade fresca ou trágica, sempre repentina, não cessa de ilustrar a descontinuidade do tempo (p. 15).
Em boa verdade, podemos ter uma perceção de continuidade do tempo, mas isso é apenas uma impressão, pois, como explica Bachelard, o facto de a vida nos pôr à disposição uma prodigiosa riqueza de instantes, dá-nos a sensação de não os podermos contar, daí ficarmos sempre com uma ilusão de continuidade.
Bachelard é o filósofo do corte, da ruptura, da transformação, da apreensão da novidade, da revolução do pensamento, aplicados, quer à filosofia da ciência, quer à filosofia da imaginação. As suas teses sobre o tempo fazem o elogio do incidente, da novidade. Acto e incidente são, em cada instante, os verdadeiros princípios de criação, diz Bachelard (1932): “Numa evolução verdadeiramente criativa, só há uma lei geral, a de que um incidente é a raiz de toda a tentativa de evolução” (p. 24). A novidade é sempre um instante. O instante impõe-se de uma vez, por inteiro, como uma síntese do ser. O instante é fecundo porque contém uma síntese de novidade e rotina. E em relação à rotina, ao hábito, Bachelard afirma que se o hábito é a vontade de se repetir a si próprio, o que importa é a vontade de repetir como um começo. No fundo, a originalidade e a novidade constitui-nos pela refutação de nós mesmos. E neste sentido, Bachelard não se cansa de propor a revolução do espírito.
Em suma, para Bergson o instante é um nada. Para Bachelard é tudo. Esta oposição de teses tem um denominador comum que é o de ambos fazerem uma filosofia da criação, da mudança, da novidade. Se fizermos um apanhado das expressões de um e de outro sobre a Criação, encontramos, em Bergson, a criação na duração do seguinte modo: Jorro ininterrupto de coisas novas, criação incessantemente renovada, fluxo incessante, alteração ininterrupta. E em Bachelard, a criação no instante do seguinte modo: Mudança súbita, inscrição brusca, propulsar, recomeçar sempre.
Começámos com o conceito de personalidade não psicótica de Bion e vimos com Gadamer o seu “mistério”. Em busca desse “mistério”, seguimos os passos de dois filósofos que nos dão teses antagónicas sobre o modo como a consciência humana apreende o tempo. Pelo lado bergsoniano, temos a consciência da duração qual fluxo permanente que contém em si a criação vital. Pelo lado bachelardiano, temos a consciência de uma revolução em que, em cada instante tudo se pode transformar. Mas o mais importante é podermos reunir estas duas categorias num denominador comum que é a Criação. E este denominador comum, sendo aquele que fundamenta cada posição é também, justamente, o alicerce que argumenta que cada posição se afaste da outra.
Não estranhemos este facto porque, se sairmos da filosofia do tempo e entrarmos no campo da psicanálise, apreciaremos certamente posições logicamente contrárias. E não haverá nada melhor que uma boa contradição para pensar melhor e mais além. A este propósito, diz Bachelard (1938/2006), “Ama profundamente quem ama qualidades contraditórias” (p. 181).
Bergson e Bachelard dizem-nos que o tempo é de natureza psicológica. Talvez nós sejamos mesmo terapeutas do tempo. Nós estamos lá, no espaço dos nossos gabinetes, num Cronos regular a acompanhar a vida indizível que jorra sem cessar, e a revolução em que tudo começa de novo. E assim, aos poucos, vamos assistindo à revelação da harmonia oculta da saúde. Uma harmonia entre a parte psicótica e a parte não-psicótica da personalidade que se revela na Criação.
Bachelard, G. (1932). ). L’intuition de l’instant. Paris: Ed. Gonthier
Bachelard, G. ( 2006). A formação do espírito científico : contribuição para uma psicanálise do conhecimento objectivo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Lisboa: Ed Dinalivro (originalmente publicado em 1938).
Bergson, H. (2011). Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. Tradução: João da Silva Gama. Lisboa: Ed 70. (originalmente publicado em 1927).
Bergson, H. (2001). A evolução criadora. Tradução de Pedro Éloi Duarte. Lisboa: Ed. 70. (originalmente publicado em 1941).
Bion, W. (1994). Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Ed. Imago.
Gadamer, H-G. (2009). O Mistério da saúde. Lisboa: Ed. 70
Ferreira, V. (2014). Aparição. Lisboa: Ed. Quetzal. (publicado originalmente em 1959).
Desenvolvimento do conceito de personalidade-não-psicótica de Bion, com o contributo de três filósofos: H-G. Gadamer com o “mistério da saúde”, H. Bergson com “o tempo como duração” e G. Bachelard com “o tempo como instante”. Gadamer apresenta o fenómeno da saúde como misterioso e propõe uma ”harmonia oculta” e um “movimento vital” como evidentes, embora não explicáveis, da saúde; Bergson e Bachelard analisam as implicações psicológicas do tempo, mas apresentam teses totalmente díspares: Em Bergson, o tempo é contínuo; Em Bachelard, o tempo é descontínuo. O que é comum neles é o fenómeno da “criação”, seja em modo de fluxo incessante (bergsoniano), seja em modo de instante revolucionário (bachelardiano). Esta “criação” vivida no tempo pode ser outra condição que sustenta o fenómeno misterioso da saúde de que fala Gadamer e pode ser uma condição da personalidade não psicótica de Bion.
The mistery of the non-psychotic personality
Bion’s concept of non-psychotic personality has been developed with the contribution of three philosophers: H.G. Gadamer with “health ministry”; H. Bergson with “the time as duration” and G. Bachelard with “the time as instant”. Gadamer presents the phenomenon of health as mysterious and suggests the existence of an “hidden harmony” and a “vital movement”. Although we can not explain them, these elements appear to be evident when we consider the phenomenon of health. Bergson and Bachelard analyze the psychological implications of time, but they present two different thesis: Bergson considers time as continuous; As for Bachelard, time is discontinuous. What is similar in both thesis is the phenomenon of “creation”. Either considered as an incessant flow (Bergson), or as a revolutionary instant (Bachelard). This “creation” which exists in time can be another condition that supports the mysterious phenomenon of health presented by Gadamer and could also be a condition of the non-psychotic personality of Bion.
Bion; Gadamer; Bergson; Bachelard; Time; Creation.