Revista | Vol. 8, N. 1, Dez 2017

Psicanálise sem divã?

Novos caminhos em psicanálise

Novos caminhos se têm desenhado na Psicanálise. Em Portugal, destaco a influência do Dr. Coimbra de Matos como grande pensador e impulsionador da mudança para uma psicanálise que se quer assente no relacional, onde as palavras “amor” e “aposta” no paciente fazem parte do seu léxico rico em afecto e em impulso para se viver uma vida com sentido e plena. Fará parte do Dr. Coimbra ter uma reserva de esperança sem fim na capacidade do próprio em fazer o caminho para se encontrar livre e autêntico e construir a sua vida. Esperança esta que, porque autêntica nele, permite ao paciente primeiro sonhar, quando acreditar ainda não é possível.

Será essa consistência no sentir do psicanalista que permite ao paciente ir saindo do sonho/projecto para a certeza da sua capacidade/competência. E isso só é possível se tal esperança e afecto existir de facto dentro do coração e da mente do terapeuta. Ou seja, ser um aspecto da realidade, sentido e confirmado pelo paciente de múltiplas formas na relação real com o psicanalista: directas e indirectas, conscientes e inconscientes. Coloco intencionalmente em itálico as palavras “realidade” e “real”, porque acredito que tais afectos têm de existir realmente, captados na relação real com o terapeuta. O paciente tem direito a ter um terapeuta que o estime verdadeiramente.

Quem procura ajuda psicoterapêutica, procura, de forma consciente, alguém que o compreenda e o ajude a ultrapassar os seus problemas… e procura, de forma inconsciente, alguém que o aprecie genuinamente, porque sabemos, intimamente (e corroborado pela investigação científica e pela reflexão analítica), que é o orgulho e a aposta real da(s) figura significativa(s) que nos faz desabrochar e acreditar na nossa competência para viver a nossa vida.

Sem esse brilho do orgulho, sentimo-nos deprimidos, sempre na sombra, conduzidos pela mão invisível de uma auto-estima fraca e empobrecida, cuja energia se esvai hemorragicamente, sugada por uma crítica interna devastadora, resultado da internalização da culpa pelo não orgulho e não aposta parental, associada a um desejo idealizado e nunca realizável (porque não vivido no plano da realidade) de conquista desse amor e orgulho parental. De tal forma que podemos passar uma vida inteira sem consciência da motivação inconsciente dos nossos actos na procura de deslumbrar os olhos parentais… Continuamos iludidos à procura do elixir da felicidade perdido na infância. E sentimo-nos miseráveis.

Por isso, a psicanálise não é, para mim, um caminho puramente técnico. Exige, primeiro, uma relação particular e especial entre terapeuta e paciente assente num amor e aposta mútuos. Não anula as cicatrizes das relações significativas da infância, mas, pelo facto de se constituir nova relação significativa, assente em afecto genuíno, possibilita um novo caminho a trilhar.

Consciente deste aspecto primordial – o amor pelo paciente -, aprendido com o professor Coimbra, continuo a afinar a minha capacidade de, nos primeiros contactos, compreender se sinto capacidade de compreensão e esperança no desenvolvimento da pessoa que me procura. Sei que sem essa aposta não há aquele tipo de envolvimento que permite ultrapassar as grandes dificuldades da vida e irmos mais além.

Além disso, serão pessoas que farão parte da minha vida durante algum tempo, passaremos tempos difíceis, por isso é importante para mim que apostemos um no outro e sintamos que funcionamos bem como equipa pensante. Sinto prazer, expectativa e entusiasmo em relação ao nosso encontro em cada sessão. Quando não o sinto, sei que estou com dificuldade em compreender o que se passa dentro do paciente e sinto-o como um sinal de que tenho de despender mais tempo a pensar sobre essa pessoa… ou sobre mim própria.

Porque sinto este laço entre mim e o meu paciente, tenho dificuldade em compreender a palavra “resistência do paciente”. Havendo esperança, empatia e amor pelo outro, as palavras que me surgem para compreender os movimentos de progresso e regressão na dança terapêutica serão procura constante de encontro e compreensão, pelo que existe um grande esforço no sentido da sintonia entre o par terapêutico. O que envolve um grande interesse e disponibilidade de parte a parte. Mas a motivação e disponibilidade do paciente para a compreensão e mudança estão em relação directa com a esperança e amor do terapeuta por ele, decorrendo destes. O paciente encontra-se na posição expectante, de expectativa de encontro, de reconhecimento e de amor do outro por si mesmo.

Naturalmente, não se navega sempre em mares tranquilos e de sintonia. Existe desencontro nas tentativas que ambas as partes fazem para se explicar e se sintonizar. Não somos um só. Não somos a mesma mente. Somos duas mentes que tentam comunicar profundamente.

Pode existir frustração no paciente diante das tentativas mal sucedidas de compreensão por parte do terapeuta e pode existir raiva pelo analista quando toca em partes sensíveis fora do ritmo de descoberta do paciente. Quanto mais o eu é frágil e a idealização se faz sentir, mais frustrante se torna a existência de desencontro, de incompreensão… Podem, pois, surgir momentos de zanga e de tensão. De raiva até. As palavras do terapeuta podem ser sentidas como ataques violentos, como incompreensão insuportável numa mente já muito magoada por desencontros… A raiva expressa pelo paciente comunica, de forma anacrónica, uma dôr muito antiga e um imenso desejo de sintonia. Como referiu Joana Espírito Santo (comunicação pessoal, 2018), a zanga esconde uma mensagem de amor.

Por isso, não entendo o desencontro e a zanga como expressões de resistência do paciente… mas expressão do desencontro que mantém o sofrimento, a dor… e diminui a esperança da compreensão e do bom apoio que liberte para uma vida que se deseja viver… e que se crê poder viver, diferente da realidade actual. Há muita esperança e desejo depositados num encontro com o terapeuta… como o há com uma mãe…

Mas, como aprendi com uma paciente minha, um bom marinheiro não se faz em mares calmos. Por muito frustrante que possa ser, no desencontro também nos desvelamos, porque é uma hipótese de nos afirmarmos perante nós próprios e face ao outro.

Por vezes, o analista coloca luz sobre aspectos que porventura não estamos preparados para ver e não queremos aceitar em nós próprios. No mar revolto, assim como nas tempestades internas e relacionais, descobrimo-nos para além do conhecido/revelado e somos obrigados a contactar com verdades que preferíamos manter na sombra, diminuindo a angústia que provocam…

Se o terapeuta não se assustar perante tal zanga e frustração, e não erguer a sua resistência e defesa narcísica, e aceitar que erra, que é mal compreendido, que é sítio de projecção, e sobretudo se amar de facto aquele paciente, esforçando-se por ir ao encontro do pedido de amor/compreensão subjacente, o desencontro pode tornar-se momento de construção identitária e fortalecimento da relação.

Não se nasce terapeuta, tal como não se nasce pai. Tornamo-nos terapeutas das pessoas que nos procuram e em quem apostamos com amor e esperança. E porque gostamos destas pessoas, melhoramo-nos e esforçamo-nos por compreender e ajudar o melhor que somos capazes, aceitando que o fazemos humanamente com imperfeições e erros.

Psicanálise sem divã

A questão que coloco no título deste artigo surge integrada no meu percurso como terapeuta e analisanda.

Por um lado, pelo facto de não me identificar com a postura psicanalítica tradicional. E até há pouco tempo, eu pensava que isso era um defeito. Algo que eu não conseguia fazer diferente. As minhas tentativas de ser mais conforme a postura tradicional do psicanalista traziam-me dificuldades nas sessões porque não conseguia estar à vontade e ser eu própria, porque tentava controlar a minha tendência natural em ser responsiva e próxima. Fazia-me sentir mais distante dos pacientes e bloqueava a minha espontaneidade e pensamento.

Por outro lado, por sentir que acompanhar pessoas via Skype ou face a face, de forma próxima e afectivamente disponível não ser impeditivo de realizar com essas pessoas uma viagem psicanalítica. Situações que me têm feito refletir sobre o facto de o que faz a diferença na viagem terapêutica não ser a técnica, mas as complementaridades entre o par analítico, potenciadas pela autenticidade do gostar entre ambos os intervenientes e da aposta do terapeuta no paciente.

Finalmente, os testemunhos de pacientes sobre a importância que sentiam em relação à postura emocionalmente próxima do terapeuta.

Coimbra de Matos (2002) destaca que o objectivo da psicanálise é aumentar no paciente o acesso dos

“conhecimentos etiopatogénicos, conseguindo aquele a resolução dos seus sintomas, alívio do seu sofrimento. (…) Saber quem outrora fomos e as circunstâncias em que então nos organizamos permite melhor compreender quem agora somos e o que no momento desejamos, bem como mais adequadamente planear o nosso futuro. (…) Ficará menos menos inocente e mais prevenido” (p. 185) O paciente, “A capacidade de análise dos sistemas relacionais em que se insere e movimenta torna-se mais profunda, rápida e eficiente” (p.185)

Na esteira do Dr. Coimbra de Matos (2002), considero que a relação analítica é uma relação de amor/aposta mútuos onde o analista oferece a sua “função analisante” (p. 185) para ajudar o paciente a pensar e melhor compreender os seus sentimentos, que não sendo mentalizados, traduzem-se em comportamentos-sintoma. Tal função analisante de que nos fala Coimbra de Matos (2002) permite dar significado pensável ao que sente e sentiu, retirando da sombra a verdade do que o paciente sentiu e intuiu (proto-pensamentos) sobre a influência das figuras significativas e de contextos da sua história.

O afecto real sentido no modo como o analista o recebe em cada sessão, sentido na ressonância e sintonia afectiva traduzida consciente e inconscientemente pelas palavras e comportamentos do analista, e na sua procura em ajudar o seu paciente a compreender-se melhor, banha a relação do afecto necessário que dá coragem ao paciente para pensar e expressar o até então impensável.

Neste processo, fundamentalmente humano, o toque entre as “almas”-mentes retira o paciente da sua solidão e produz um maior auto-conhecimento em ambos os intervenientes. O facto de o sentimento e o pensamento do paciente ser compreendido intimamente pelo analista conduz, em ambos, a uma expansão da sua capacidade de empatia e a uma maior aceitação e confiança de/em si mesmos, em direcção a uma crescente capacidade de se verem agentes competentes na prossecução a bom porto da viagem psicanalítica conjunta, e consequentemente na construção das suas vidas…

Penso que quando a ligação ao paciente é intensa e enamorada sucede podermos esquecer que estamos no divã, face a face ou via Skype. Quando a ligação ao paciente é muito intensa e investida, sentimo-nos com a mente do paciente, numa ligação íntima, onde as mentes se ligam e comunicam. Há um interesse e uma motivação de parte a parte para manter a relação. E esse interesse torna-nos mais permeáveis e flexíveis e menos atentos a constrangimentos. Dançamos ao ritmo e de acordo com as características e necessidades do paciente e da singularidade da relação que com ele estamos a estabelecer. Se a dança flui, gera um sentimento de satisfação em ambos… mesmo que atravessado mares negros e turbulentos. Satisfação que nasce da beleza estética de uma sessão em que ambos se sentiram intimamente ligados. Conectados e a dançar/pensar em sincronia. Em meu entender, esta satisfação interna é um sinal subjectivo, que acontece quando existe uma comunicação interpsíquica/intersubjectiva. Como seres eminentemente sociais e que precisamos do espelho do outro para nos conhecermos a nós próprios, sentirmo-nos entendidos e em ligação com o outro produz esse sentimento de satisfação interior.

E nessa dança pode acontecer que o par analítico sinta necessidade de estar em contacto visual, sentindo o divã como uma interferência negativa ao fluir da sua relação.

Podemos pensar que não existe um modo único de fazer psicanálise. Mas talvez seja único o caminho de uma psicanálise: a possibilidade de estar numa relação onde nos descobrimos cada vez mais profundamente, aceitando quem somos, com qualidades, defeitos, deficiências, dificuldades, incapacidades, orgulhos, projectos, aspirações, erros e desejo de fazer mais e melhor. Mas aceitando quem somos… e gostando de quem somos.

E esse trabalho de gostarmos de quem somos não acontece só porque o psicanalista/terapeuta/mãe/pai gostam de nós, mas sobretudo porque no estímulo e motivação dessas relações significativas ganhamos maior capacidade de ser agentes da nossa própria vida e constatarmos que, quando decidimos por nós e de forma implicada, independente e responsável, nos sentimos felizes e orgulhosos de nós. Sentimos que sabemos cuidar bem de nós… É aqui que o caminho do par analítico termina.

Vários autores (destacando Jonathan Shedler, 2016; Richard Raubolt, 2018, comunicação pessoal) já debateram esta questão. Não é de todo uma ideia original minha, mas este questionamento tem-se entrelaçado com a minha procura do meu caminho em psicanálise e com o amadurecimento das minhas ideias sobre a relação psicanalítica e os factores que contribuem para a mesma.

De acordo com Shedler (2016): “A terapia psicanalítica é um esforço partilhado e colaborativo entre dois seres humanos, nenhum dos quais tem acesso privilegiado à verdade” (p. 10). “A psicanálise é um processo interpessoal, não uma posição anatómica. Refere-se a um tipo especial de interação entre paciente e terapeuta.” (p. 9).

“Há pacientes que realizam cinco sessões por semana e deitam-se num sofá e nada ocorre que se parece remotamente um processo psicanalítico. Outros participam de sessões uma ou duas vezes por semana sentados numa cadeira, e não há dúvida de que um processo psicanalítico está ocorrendo. Realmente tem a ver com quem é o terapeuta, quem é o paciente e o que acontece entre eles” (Shedler, 2016, p. 10).

Richard Raubolt (comunicação pessoal, 2018) refere que:

“Na verdade, acredito que a definição que se baseia na frequência das sessões por semana ou o uso do sofá simplista. Eu acredito que uma posição mais útil pode ser considerar a psicanálise como uma atitude, um ponto de vista ou uma posição do próprio analista. Como tal, estamos sempre em análise, visto que esta não se limita à hora clínica.”

Penso que muitos psicanalistas podem utilizar o divã para instituir uma relação desigual entre paciente e terapeuta, escamoteando, disfarçando, ocultando como a relação terapêutica é uma relação de crescimento para ambos. Insistindo na ideia de que os ganhos da terapia são voltados para o paciente e estabelecendo uma diferença de estatuto entre paciente e terapeuta. Numa relação terapêutica profunda, como diria uma paciente minha, reconhecemos que “somos todos apenas humanos”, unidos por um profundo interesse em nos conhecermos mais, compreendermos melhor e vivermos mais felizes, expandindo as nossas capacidades. É, pois, uma relação que estimula o crescimento de ambos os intervenientes.

“Os psicanalistas pós-modernos que defendem abordagens relacionais e intersubjetivas (...) lembram-nos que as reações do paciente não ocorrem no vazio e que o paciente e o terapeuta se influenciam mutuamente de maneira complexa e recíproca. Eles estão, de fato, co-construindo ou co-criando cada interação. Parece inegável que os pacientes trazem as suas histórias pessoais na interação terapêutica, que modelos de relacionamento precoce se tornam reativados e reproduzidos, e que as dores e os anseios não resolvidos são direcionados para o terapeuta. Também parece inegável que a forma como o terapeuta interage e responde molda a interação terapêutica e influencia quais modelos que entram em jogo e como. Não são apenas pacientes, mas também terapeutas que trazem seus passados no consultório”. (Shedler, 2016, p. 27)

Muitos psicanalistas defendem que o divã oculta o olhar do terapeuta do olhar do paciente, favorecendo a capacidade de o paciente estar mais em contacto consigo mesmo. Porém, em meu entender, ao mesmo tempo, o divã impede a leitura dos afectos veiculados pelas reacções do rosto terapeuta e do paciente. Priva os interlocutores de uma das primeiras competências que o bebé desenvolve na relação com a sua mãe e que lhe permite afinar a concordância entre aquilo que lhe é dito com a emoção que transparece quando algo lhe é dito.

Sem divã a proteger, é fundamental a verdade do afecto, do desejo de compreender e estimular o crescimento do paciente. Exige ao terapeuta maior responsabilidade na aceitação dos pacientes, verdade e consciência do que sente em relação aos pacientes que o procuram. Pelo menos foi isso que eu fui tomando consciência na minha prática.

Defende-se que o uso do divã permite que o paciente sofra a menor interferência possível dos dados do terapeuta e, assim, sendo capaz de estar mais atento a si e aos seus pensamentos e sentimentos, que seria tido como o mais importante numa análise. Mas, precisamente aquilo em que tenho vindo a refletir, e que faz parte quer da minha experiência pessoal quer da experiência com pacientes, a interferência emocional do terapeuta pode ser o ingrediente essencial para a mudança efectiva dentro do paciente.

O que quero significar com interferência emocional do terapeuta remete para a atenção, o investimento emocional, o interesse, o enamoramento que se sente pelo paciente… e tudo o que é veiculado pela comunicação não verbal, e que dá sinais a ambos os intervenientes do que cada um sente e pensa.

Sobretudo dá indicações inequívocas sobre o gostar mútuo.

E penso que é esse gostar do terapeuta que se transforma em apostar no outro. E é esse sentir-se amado e estimulado pelo terapeuta que dá motivação intrínseca à pessoa para operar mudanças significativas e difíceis na sua vida. O que quero dizer com isto é que penso que não é a neutralidade afectiva do terapeuta que ajuda na mudança relacional do paciente. O cérebro não muda com neutralidade. O cérebro muda numa relação de amor. O que cura é o amor. A neutralidade de pensamento ajuda a pessoa a pensar-se.

Numa relação, seja ela de que tipo for, onde não há verdadeiro amor pelo outro, não crescemos. Numa relação onde não sentimos verdadeira aposta em nós próprios, mantemo-nos no ciclo vicioso (Matos, 2001, 2002) da procura de afirmação do nosso valor. Estamos sempre no mesmo lugar, mesmo que mais firmes das nossas opiniões. Pode ser importante na afirmação pessoal, mas só este tipo de relações não chega. É um crescimento deficitário, porque mais instável, esforçado e muito mais demorado... e a vida não é para sempre. E é preciso amadurecer para viver uma vida plena de sentido.

Quando a pessoa se sente estimada e valorizada, amadurece radiosa e a bom ritmo. Numa relação de verdadeiro amor/orgulho/aposta/estímulo, para além de crescermos, inovamos, porque o outro olha e estimula e dá mais achegas ao nosso lado estimulante e vivo. Esse é o impulso virtuoso que faz sair do ciclo e amar a vida.

Referências

Matos, A. C. (2001). A Depressão. Climepsi Editores

Matos, A. C. (2002). Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica. Climepsi Editores.

Shedler, J. (2006). This was then, this is now: an introduction to contemporary psychodynamic therapy. http://www.jonathanshedler.com/PDFs/Shedler%20(2006)%20That%20was%20then,%20this%20is%20now%20R9.pdf

Resumo

Entrelaçado com a própria experiência da autora enquanto profissional e analisanda, este artigo pretende ser uma reflexão, necessariamente pessoal, sobre a possibilidade de se realizar um percurso psicanalítico bem sucedido na ausência de algumas das características do setting psicanalítico, sobretudo o uso do divã. Defende-se que a função analisante (Matos, 2002) do psicanalista pode existir para além do setting. Quando enamorado, entusiasmado e crente no desenvolvimento do seu paciente, o terapeuta sente prazer e desafio em pensar sobre o outro (e sobre si mesmo), e isso acontece independentemente do setting. Reflete-se na sua atitude genuína e interessada em pensar e compreender o paciente, tendo como consequência, a conquista, por parte do paciente, da possibilidade de pensar a sua história, desfazendo as defesas que bloqueavam o (re)conhecimento da sua história, e assumir a sua agencialidade na construção do sentido da sua vida. O paralelo será a relação de amor. Ama-se com espontaneidade e entrega.

Title

Psychoanalysis without a couch

Abstract

Intertwined with the author experience as a professional and analysand, this article intends to be a reflection, necessarily personal, on the possibility of a successful psychoanalytical course in the absence of some of the characteristics of the psychoanalytic setting, especially the use of the couch. It is argued that the psychoanalyst’s “analyzing function” (Matos, 2002, p.185) can exist beyond the setting. When enamored, enthusiastic and believing in the development of his patient, the therapist feels pleasure and challenge in thinking about the other (and about himself), and this happens regardless of the setting. It reflects on his genuine attitude and interest in thinking and understanding the patient, resulting in the patient being able to think about his / her history, undoing the defenses that blocked the knowledge of his / her history, and to assume its agency in the construction of the meaning of its life. The parallel will be the relationship of love. We love with spontaneity and surrender.

Key Words

Psychoanalytic Relation • New Relation • Psychoanalytic setting.