Revista | Vol. 5, N. 2, Dez 2014

Regressão, amor primário e novo começo

Introdução

Balint começou a observar que por vezes os pacientes no m da psicanálise começavam [de início de forma tímida] a esperar ou mesmo exigir gratificações. Por exemplo, ouvir uma palavra simpática por parte do analista, poder tratá‐lo pelo nome, vê‐lo fora das sessões, pedir‐lhe algo emprestado, dar ou, mais frequentemente, receber um presente do analista, poder tocar‐lhe ou agarrar a mão.

O que fazer com estes anseios? Era importante serem reconhecidos tanto pelo analista como pelo paciente e compreender a sua natureza primitiva. Com a maioria dos pacientes isto era suficiente. Quando esta satisfação era dada proporcionava uma satisfação de bem‐estar tranquilo, calmo (Balint, 1986/1953, p. 245). Mas alguns pacientes exigiam mais. Eram pacientes bastante perturbados e em que o desenvolvimento foi distorcido por traumas. Tendiam a regredir a estados infantis de desamparo, nos quais não eram capazes de usar as interpretações.

Lidar com a situação requeria tato. Por um lado, se o analista era indulgente, o paciente podia desenvolver uma sofreguidão insaciável, parecida com um estado maníaco, e onde nada é suficiente. Ficavam num estado semelhante a uma adicção e não era possível fazer o trabalho analítico. Os sintomas desapareciam e sentiam‐se muito saudáveis desde que estivessem seguros de que os seus desejos iam ser satisfeitos. À primeira insatisfação o humor mudava abruptamente (Balint, 1986/1953, p. 97). Por outro lado, corria‐se o risco da frustração. Se os desejos não eram satisfeitos, os pacientes sentiam‐se inseguros, inúteis, desesperados, amargamente desapontados, achavam que não podiam confiar em ninguém (Balint, 1986/1953, p. 97). Sessão após sessão, o paciente desenrolava fantasias sádicas cruéis sobre como o analista devia ser tratado como retaliação pela sua indiferença. Outras vezes ocorriam fantasias cruéis sobre o que o paciente devia esperar como punição pela sua agressividade.

Tanto num caso de adição como frustração observavam‐se reações ruidosas e veementes causadas por tensões dolorosas, quase insuportáveis. Não era fácil lidar com esta situação. Mas quando se é bem‐sucedido, este período dá frutos. Estruturas rígidas do ego, traços de carácter, mecanismos de defesa e Relações de Objecto que se repetem tornam‐se analisáveis para o analista e paciente (Balint, 1986/1953, p. 247).

O que se passa quando os pacientes se comportam desta maneira? Um conceito que ajuda a perceber estas situações é o de regressão. A regressão corresponde ao aparecimento de formas primitivas de conduta depois de já estabelecidas formas mais maduras.

Regressão: o conceito

Freud introduz o conceito de regressão em 1900 com a Interpretação dos sonhos, distinguindo três tipos de regressão: topográfica; temporal, que reverte o caminho do tempo e leva‐nos ao passado; e formal, dos meios de expressão mais maduros para os mais primitivos. Haveria uma unidade entre os três em que o mais velho no tempo é o mais primitivo na forma e o que está topograficamente mais próximo do polo percetivo (Freud, 1969/1900). Freud aplica o conceito de regressão à enfermidade, e não à terapia, referindo que é um requisito indispensável para o surgimento de uma neurose que a libido tome um curso regressivo, enquanto o tratamento analítico a segue, procura rastreá‐la e torná‐la acessível à consciência para colocá‐la ao serviço da realidade (1969/1912, p.114).

Mais tarde, nas Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise, descreve o papel da fixação e regressão na etiologia das neuroses. Nem todas as fases preparatórias da libido seriam ultrapassadas com igual êxito e superadas completamente. Partes da função seriam retidas (fixadas) nesses estados iniciais. Quanto mais intensas as fixações rumo ao desenvolvimento, mais prontamente a função fugiria às dificuldades externas, regressando às fixações, portanto, mais incapaz se revela a função desenvolvida de resistir aos obstáculos externos situados em seu caminho. Haveria dois tipos de regressão: um retorno aos objectos inicialmente investidos pela líbido, de natureza incestuosa, que seria típica da histeria; e um retorno da organização sexual como um todo a estádios anteriores, que não apareceria na histeria, mas seria típica da neurose obsessiva (1969/1916‐‐1917, p. 345).

Inicialmente, Freud viu a regressão como um mecanismo de defesa; posteriormente, como um factor na patologia. Mais tarde ainda, considerou a função de regressão como parte da transferência em especial ao serviço da resistência (Freud, 1912). Quando se lidava com formas regressivas na transferência era necessário manter a abstinência ou privação.

A questão de como responder a um paciente regressivo que tenha desenvolvido uma transferência muito intensa talvez tenha sido a principal causa do trágico desacordo entre Freud e Ferenczi (Balint, 1993/1968, p. 138). A primeira experiência de Freud com a regressão em que o paciente faz permanentemente exigências foi o tratamento de Ana O. Freud encontrou em seus primeiros tempos de psicoterapia quase exclusivamente casos de regressão maligna, o que o terá impressionado, resultando nas suas propostas extremamente cautelosas. Ferenczi obteve tanto notáveis sucessos como fracassos com casos de regressão e foi levado a explorar primeiro a técnica activa e depois o princípio de relaxamento (Ferenczi, 1992/1930). Ferenczi pensava que responder positivamente às expectativas, pedidos e necessidades dos pacientes fazia surgir um trabalho fecundo. Os resultados imediatos dessa técnica eram encorajadores e demorou a perceber que a melhoria de alguns pacientes só iria durar enquanto ele pudesse satisfazer os seus desejos.

Duas formas de regressão, beningna e maligna

Balint apercebeu-se que na variedade de formas de regressão era possível identificar duas formas ou, por outras palavras, dois tipos de pacientes. Com alguns pacientes ocorre apenas um período, ou alguns poucos períodos de regressão, que se transforma num verdadeiro novo começo do qual o paciente emerge do seu mundo primitivo e se sente melhor. Noutros casos parece que nunca são suficientes e, assim que uma das necessidades é satisfeita, é logo substituída por outro desejo ou anseio, igualmente exigente e urgente levando a estados semelhantes aos da toxicomania (Balint, 1993/1968, p. 131).

Para distinguir esses dois tipos de regressão, Balint chama‐os de maligno e benigno. Na primeira forma de regressão, o alvo é uma gratificação dos anseios pulsionais. O que o paciente procura é um evento externo, uma acção por parte do seu analista. Na outra forma de regressão, benigna, o que o paciente espera é um consentimento tácito de utilizar o mundo externo de uma forma que lhe permita lidar com os seus problemas internos. Embora seja essencial a participação do mundo externo, esta caracteriza-se sobretudo por não interferir, não provocando uma perturbação desnecessária na vida interna do paciente. A forma principal desta participação é o reconhecimento da existência da vida interna do paciente e da sua individualidade. Balint propôs chamar à primeira regressão com finalidade de gratificação e à segunda regressão com finalidade de reconhecimento (Balint, 1993/1968, p. 133).

Portanto, a regressão pode ter pelo menos duas finalidades: gratificação de uma pulsão e reconhecimento por um objecto. Por outras palavras, é um fenómeno intrapsíquico e um fenómeno interpessoal. Para a terapia dos estados regressivos, o mais importante são os aspectos interpessoais

(Balint, 1993/1968, p. 147). Tanto a forma como a profundidade da regressão são resultado de uma interação entre um determinado paciente e o seu analista. O aspecto clínico de uma regressão irá também depender de como a regressão é reconhecida, aceite e respondida pelo analista (Balint, 1993/1968, p. 148).

O que o analista pode fazer e o que deve evitar

Como proceder quando os pacientes se comportam de forma regredida? A resposta a esta questão depende do grau de regressão do paciente. O paciente pode ter uma patologia que o leve a regredir em dado período da terapia a uma fase pré‐edipiana ou, como Balint a designa, da Falha Básica.

Nas fases de regressão à falha básica as palavras deixavam de ser um meio confiável; as interpretações são experimentadas como interferência, crueldade, injustificadas, uma influência injusta, um acto hostil, ou algo morto e sem efeito; o silêncio em que por vezes os pacientes se encontram em vez de ser um vazio árido e assustador do qual o paciente deve ser tirado o mais depressa possível, podem significar uma tentativa de restabelecer a harmonia do amor primário que existia entre o indivíduo e o seu ambiente, antes da emergência dos objectos, quando qualquer interferência poderá destruir essa harmonia; por último, qualquer intrusão por interpretação inevitavelmente destrói a possibilidade do paciente criar algo por si, na fase de criação não existe objecto externo (1993/1968, pp. 160‐162). Estas são as justificações avançadas por Balint para propor o seu tipo de intervenção.

Comecemos pelo que o analista deve evitar. Deve evitar uma abordagem técnica em que tudo é interpretado como transferência, porque isso leva o paciente a ver o terapeuta como um objecto poderoso e inteligente, forçando-o a regressar a um mundo ocnofílico, com grandes oportunidades de dependência e poucas para fazer descobertas independentes. Também deve evitar proceder como um objecto independente, bem delimitado, permitindo o desenvolvimento de uma espécie de mistura entre o paciente e ele próprio (o ambiente). Nestas fases deve‐se permitir que os pacientes se relacionem com o terapeuta como se ele fosse uma substância primária, como a água para o peixe, estar presente para que o paciente o utilize sem muita resistência a ser usado (1993/1968, p. 153). Deve estar presente e ser indestrutível. Deve evitar tornar‐se ou mesmo parecer omnipotente aos olhos do paciente. Quanto mais omnisciente e omnipotente for a conduta do analista, maior será o perigo de uma forma maligna de regressão. O paciente regressivo espera que o terapeuta saiba mais e seja mais poderoso. Espera que o analista prometa, explicitamente ou pela sua conduta, ajudá‐lo a sair da regressão. Quando essa promessa é feita, mesmo com a discreta aparência de uma concordância tácita, irá criar dificuldades (1993/1968, p. 153).

O que é que o analista pode fazer para favorecer este processo? A técnica proveitosa para Balint é suportar a regressão pelo tempo necessário, sem qualquer tentativa forçada de intervir através de uma interpretação. Esse tempo podia ser apenas de uns minutos, mas também podia durar um número mais ou menos longo de sessões. Permitir ao paciente vivenciar uma relação bipessoal que não pode, não precisa e talvez não deva ser expressa por palavras, mas algumas vezes pelo que é habitualmente chamado de acting-out na situação analítica (hoje diríamos acting‐in ou simplesmente enacting). Todas estas comunicações não verbais seriam evidentemente perlaboradas depois do paciente emergir daquele nível, atingindo novamente o nível edípico, mas nunca antes disso. O analista deve abandonar qualquer tentativa de organizar o material produzido pelo paciente e tolerá-lo para que possa permanecer incoerente, absurdo, não organizado, até que o paciente, depois de voltar ao nível edípico da linguagem convencional, se torne capaz de fornecer ao analista a chave para entendê-lo (1993/1968, p. 163).

Interpretação e relação

Quando é que a ênfase terapêutica deve incidir sobre a interpretação e quando é que deve incidir sobre a relação e em que sucessão devem ser utilizadas? “Somos compelidos a reconhecer que os dois factores terapêuticos mais importantes são a interpretação e a relação” (Balint, 1993/1968, 147). A interpretação tem sido demasiado enfatizada, mas funciona sobretudo com pacientes que se adaptam à situação analítica.

Na terapia dos pacientes regredidos, os aspectos interpessoais são mais importantes. Quando o trabalho atingiu a área da falha básica, em que a palavra possui uma utilidade limitada e incerta, a relação terapêutica é mais importante. Nesta fase, as associações seguidas de interpretações não parecem produzir as mudanças necessárias.

A interpretação é sempre verbal, exige compreensão intelectual, raciocínio e um novo insight. Ao contrário do insight, que é resultado de uma interpretação correcta, a criação de uma relação adequada é decorrente de uma sensação. Enquanto o insight está relacionado com o ver, a sensação está relacionada com o tato, isto é, com a relação primária ou ocnofilia. A ideia de Freud de que a análise deve ser conduzida num estado de abstinência, frustração ou privação baseou‐se na teoria das pulsões. Responder de forma positiva às súplicas de um paciente regressivo é provavelmente um erro técnico. Mas atender à necessidade de um paciente para uma relação mais primitiva pode ser uma medida técnica legítima. Mas isto implica abandonar uma psicologia unipessoal, entrando‐se numa psicologia bipessoal. O analista pode ver a regressão ora como uma necessidade do paciente satisfazer uma pulsão, ora como a necessidade de estabelecer um determinado tipo de relação objectal.

Neste caso (na falha básica/pacientes regredidos), é preciso ajudar o paciente a desenvolver uma relação primitiva, que corresponda ao seu padrão compulsivo, conservando‐a em paz não perturbada até que descubra novas possibilidades de relações objectais, sinta‐as e seja por elas sentido. O paciente deve poder regredir até à forma particular de relação objectal que provocou o estado de de ciência original, ou mesmo a um estado anterior. Esta é uma pré‐condição que deve ser preenchida antes que o paciente possa desistir, inicialmente de maneira um tanto experimental, do seu padrão compulsivo. Somente depois é que o paciente irá recomeçar (Balint, 1993/1968, p. 153).

O objecto de amor primitivo ou o amor primário

O papel do analista deve corresponder ao do objecto de amor primitivo. A menor ambivalência possível, i.e., muito pouco ódio, controlo sobre as satisfações do próprio analista, estar alerta para responder de forma correcta a qualquer necessidade ou pedido do paciente, vigilância para qualquer possível sobre ou sub-estimulação do processo analítico que resultem em inibições e ansiedade, dissolvendo-as com interpretações compreensivas. Um objecto tido como adquirido, de cujos interesses ou sentimentos não é preciso dar conta, que está ali sempre que é preciso, que pode ser tratado como um mero objecto, uma coisa (Balint, 1986/1953, p. 152).

O tratamento pode ser visto como criar as condições para se observar o amor primário e posteriormente a transformação progressiva do amor primário em amor adulto. O amor das relações de objecto primitivo é omnipotente, exigente, instável, e perante frustração vira ódio (Balint, 1986/1953, p. 146). O paciente gradualmente dá conta, compreende e aceita as limitações do terapeuta, sobretudo em relação a si próprio, e renuncia a mudar o analista (Balint, 1986/1953, p. 153).

Inicialmente, Balint pensou que a necessidade de estar próximo do analista, tocar‐lhe e agarrar‐se a ele era um dos aspectos mais caraterísticos do amor primário. Posteriormente, percebeu que esta necessidade de se agarrar é uma reacção do trauma, uma expressão de, e uma defesa contra, o medo de ser deixado e abandonado. É, portanto, um fenómeno secundário, sendo o seu objetivo a restauração da identidade sujeito-objecto primária através da proximidade e contacto. Esta identidade, expressa pela identidade de desejos e interesses entre sujeito e objecto, é o que se chama relação de objecto primária ou amor primário (Balint, 1959, p. 100).

O novo começo

A regressão durante o tratamento analítico tem por finalidade estabelecer uma relação objectal semelhante à da relação primária, propiciando a ocorrência de um novo começo. O novo começo significa voltar a algo primitivo, a um ponto anterior ao início do desenvolvimento defeituoso, o que poderia ser descrito como uma regressão e ao mesmo tempo a descoberta de um novo meio, mais adequado, que leva a uma progressão, uma regressão a favor da progressão; inicia‐se por uma fase de tensão e desejo de gratificação ou de reconhecimento; o novo começo leva a uma mudança de carácter ou do ego; todos os novos começos acontecem na transferência, i. e., numa relação objectal, levando a uma relação modificada com os objectos do paciente e, em consequência, a uma considerável modificação da angústia (Balint 1993/1968, p. 122). O que o paciente experiência na transferência é que se pode despir de todos os tipos de carácter e armaduras defensivas e sentir que a vida se tornou mais simples e verdadeira. O novo começo revela uma atmosfera de ingenuidade, inocência, simplicidade, inofensiva, insuspeita.

O paciente desiste pouco a pouco das suas formas antigas e automáticas de se relacionar com os outros (relações de objecto), de amar e odiar, e faz tentativas tímidas de encontrar novas formas. Balint chama a isto Novo Começo. No fundo, velhas formas que na infância foram negligenciadas ou frustradas pelo meio. Esta indiferença ou frustração levou o indivíduo a começar a sua forma neurótica de se relacionar. No ambiente seguro da análise parece ser capaz de desistir das suas defesas e regressar a um estado ingénuo, pré-trauma, e começar de novo a amar e odiar.

Este período de amor objectal primitivo, arcaico, é a fonte da líbido-desenvolvimento humano. Um desejo original de ser amado sem obrigações e sem considerações sobre as expectativas do outro. As formas de amor adulto seriam formações de compromisso entre este desejo e a aceitação da realidade desagradável e indiferente. Tem de se permitir ao paciente regressar a este estado. Através da regressão a um estado indiferenciado, alguns pacientes procurariam o “amor primário”, i. e., serem amados incondicionalmente sem qualquer obrigação de reciprocidade e a partir daí começar de novo. O novo começo significa a capacidade para uma relação de objecto de confiança, sem suspeitas, de entrega, relaxada (Balint, 1986/1953, p. 256).

Os pacientes têm de reaprender, no tratamento, a entregarem-se completamente, entregarem‐se ao amor, ao prazer e alegria, da mesma forma destemida e inocente como foram capazes de o fazer na infância. Precisam de exercitar, como se fosse pela primeira vez, certas funções instintivas que até agora não podiam ser exercitadas, eram exercitadas com ansiedade, ou sem ansiedade mas sem prazer (Balint, 1986/1953, p. 162).

Precisam de ser capazes de amar inocentemente, de forma incondicional, como só as crianças são capazes. Para poderem começar algo de novo, é necessário voltar ao ponto de interrupção (Balint, 1986/1953, p. 165). Os pacientes tendem a repetir esta fase.

Antes de chegar a este novo começo, os pacientes passam por uma fase paranoide e uma fase depressiva. Balint coloca a hipótese deste amor de objecto arcaico ser a primeira fase pós‐natal no desenvolvimento do bebé donde irradiam o narcisismo (se não sou amado pelo mundo, ou da forma que eu quero, tenho de me amar a mim próprio), a depressão e a atitude paranoide. No novo começo, o paciente desiste da atitude paranoide e aceita sem ansiedade uma certa quantidade de depressão como condição inevitável da vida e tem a confiança de que pode emergir desta depressão uma pessoa melhor (Balint, 1986/1953, p. 257).

A razão para Balint colocar a fase de amor de objecto arcaico antes das fases paranoides e depressiva e não depois resulta da observação de que elas contêm elementos narcísicos e para Balint o narcisismo é sempre secundário (Balint, 1986/1953, 258). O amor de objecto arcaico não contem ansiedades como a fase paranoide e depressiva, apenas uma confiança ingénua e entrega sem desconfiança. E não tem que ser trabalhado para ser ultrapassado, mas apenas assistir ao seu desenvolvimento. É um desejo eterno e arcaico de ser amado, ver/sentir que todas as suas características/aspectos são amados pelo objecto com quem a pessoa não se preocupa, cujos interesses e sensibilidade não considera, que está quando eu quero, e que não me incomoda depois das minhas necessidades serem satisfeitas (Balint, 1986/1953, p. 263).

Aa ideias de Winnicott sobre a regressão

Numa fase precoce de identificação primária, não existe uma diferenciação entre o ambiente e o indivíduo. Progressivamente, a adaptação suficientemente boa da mãe às necessidades do bebé dão ao ego a possibilidade de ser (2000/1958, [1956] p. 393) sem que o bebé dê conta que é a mãe que proporciona as condições de que necessita. Pelo contrário, se a adaptação do ambiente não é suficientemente boa, não há

o estabelecimento de um ego, mas de um pseudo-eu, que consiste numa colecção de reações a uma sucessão de falhas. As falhas nesta prestação de cuidados são sentidas pelo bebé como uma ruptura no sentido de ser. Uma falha grave e ou persistente nesta fase precoce dá origem a um congelamento do momento da falha e ao desenvolvimento de um falso self em redor, ou protegendo o verdadeiro eu. Desse funcionamento em falso self resulta, em adulto, uma sensação de inutilidade e irrealidade.

Estas falhas em períodos precoces do desenvolvimento dão origem a uma personalidade psicótica com implicações diferentes no tratamento psicanalítico. Se com pacientes neuróticos, o importante é a interpretação, ajudando o paciente a encontrar os significados ocultos, com pacientes psicóticos, o importante é proporcionar-lhes o ambiente ou condições de maternagem suficientemente boa que não foram proporcionadas na infância. Estes pacientes tendem a fazer regressões à dependência inicial e aos processos de desenvolvimento iniciais (2000/1958, [1956] p. 396) e a forma de lidar com esta regressão é através do que é designado por manejo do setting, em que o terapeuta é sensível às necessidades do paciente e está disposto a fornecer o contexto que dê conta dessas necessidades. Com pacientes cuja análise deverá lidar com os estágios iniciais do desenvolvimento emocional, anteriores ao estabelecimento da personalidade [pacientes psicóticos], a ênfase recai mais frequentemente sobre o manejo do setting, e por vezes passam‐se longos períodos em que o trabalho analítico normal deve ser deixado de lado, e o manejo ocupa a totalidade do espaço (Winnicott, 2000/1958, [1955], p. 375). Prover o setting e mantê‐lo é mais importante que o trabalho interpretativo (Winnicott, 1994/1989, [1964], p. 77).

Mais tarde ou mais cedo ocorrerão pequenas falhas na atenção e cuidado que o paciente espera por parte do analista e o paciente vai manifestar a sua raiva pela primeira vez, coisa que não fez na infância. O psicanalista deve assumir a responsabilidade dos seus erros, permitindo que o paciente se zangue. Se o analista se defende, o paciente perde a chance de se zangar com o analista justamente no momento em que a raiva se torna possível pela primeira vez ((2000/1958, [1956], p. 397). A parte mais importante do trabalho nestas fases é a utilização dos erros do analista, porque é aquela que torna possível o paciente sentir raiva em vez de uma ruptura no sentido de ser como ocorreu precocemente. Cada vez que surge uma resistência, o analista deve procurar o erro que cometeu.

A regressão do paciente é possibilitada pela confiabilidade que o paciente sente no terapeuta. Uma provisão ambiental específica, através do manejo do setting psicanalítico, pode permitir uma regressão voltando à dependência inicial, desta vez com o analista. O paciente e o contexto amalgamam‐se para criar a situação bem‐sucedida de narcisismo primário. O progresso a partir do narcisismo primário tem novo início com o eu verdadeiro agora capaz de enfrentar as falhas do ambiente (Winnicott, 2000/1958, [1955], p. 375), sem a organização de defesas que impliquem num eu falso protegendo o verdadeiro. Há um novo progresso do indivíduo a partir de onde o processo havia parado, um descongelamento da falha original.

Regressão e progressão

Teríamos uma visão incompleta se nos limitássemos a Balint e não abordássemos perspectivas diferentes e mais recentes sobre a regressão. Hirsch (2015) coloca ênfase tanto na possibilidade de regressão como na de progressão. A concepção de Balint pode ser criticada por enfatizar excessivamente a tendência dos pacientes para repetirem e salientar pouco os seus esforços de mudança, progressão e abertura à nova experiência. Como um modelo de Bela Adormecida (Mitchell, 1988), como se os pacientes esperassem passivamente por uma experiência de amor reparativo. A abordagem de Balint, e Winnicott, com a sua perspectiva maternal, pode dar pouca oportunidade aos desejos agressivos e esforços para se desenvolverem dos pacientes. Balint descreve muito mais as condições de regressão do que a progressão. Os psicanalistas influenciados por estes modelos da paragem do desenvolvimento podem ter dificuldades em ver e promover as necessidades agressivas de desenvolvimento saudável dos pacientes. Como refere Hirsch (2015, p. 132), a contratransferência de Fromm predispunha-o a recear a simbiose regressiva, enquanto a contratransferência de Winnicott o predispunha a recear a agressividade e independência adulta.

Os psicanalistas com as suas características pessoais tendem a privilegiar certas abordagens e negligenciar outras. Os psicanalistas que adoptam uma abordagem da paragem do desenvolvimento tendem a ver os pacientes como bebés e a favorecerem a regressão negligenciando eventualmente os aspectos progressivos, os que vêem o paciente como um adulto poderão negligenciar a fragilidade e necessidade de protecção dos pacientes (Hirsch, 2015, p. 134).

Bollas (2013) chama atenção para os riscos da regressão. Winnicott viu o desmantelamento de defesas do falso self como um requisito para uma análise bem-sucedida e, portanto, via a regressão como meritória em si mesma. Houve muitas situações clínicas em que seus analisandos ficaram profundamente dependentes dele, desistindo de um nível de funcionamento elevado no trabalho, família e obrigações, e assim por diante, no interesse da descoberta de um sentido de “realidade pessoal”, ou o verdadeiro eu.

No entanto, pode haver armadilhas sérias quando se coloca como prioridade este senso de realidade pessoal sobre a capacidade de viver no mundo exterior. “Embora Winnicott, bem como Balint, Khan, Coltart e outros, possam ter sido especialistas em lidar com a regressão à dependência, eu acredito que a promoção de um estado de profunda, dependência primitiva do analista é imprudente e contraproducente” (Bollas, 2013, p. 105).

Há a necessidade de um conceito de regressão na psicanálise relacional?

Balint considerava que Freud e toda a demais literatura psicanalítica tratava a regressão como um evento intrapsíquico, um fenómeno pertencente à psicologia unipessoal. Essa simplificação só seria válida nos casos de regressão em que a resposta do meio era negligenciável ou comandada pelas instruções de Freud (Balint, 1993/ 1968, p.130). Se o analista obedecer conscienciosamente às instruções de Freud, é pouco provável que seja exposto às situações perigosas de regressão maligna, mas o preço a pagar será um certo número de análises interrompidas por pacientes que talvez precisassem ter sido auxiliados por uma técnica mais flexível. Se essas restrições não forem consideradas, a regressão surgirá como um fenómeno bipessoal, determinada pela interação entre sujeito e objecto. É a partir desta ideia que Bromberg defende a regressão como relacional.

A regressão terapêutica pode com frequência ser inconsistente com uma abordagem interactiva e facilitar uma abordagem interpessoal. Vejamos o que diz Bromberg (1998, pp. 33‐34) sobre isto.

Por vários anos acreditei que a regressão não era necessária na psicanálise interpessoal, e que de facto até interferia em vez de a promover. Na forma como trabalhava então, a regressão, o uso do divã, e o desenvolvimento da neurose de transferência não se ajustavam. Acreditava que a regressão era desnecessária porque os meus pacientes pareciam ter mais benefícios no face a face do que no divã. No entanto, mantive o divã e usava‐o com poucos pacientes. Em retrospectiva, penso que em parte, esperava um dia descobrir porque é que alguns analistas o consideravam útil. Com o tempo os meus interesses mudaram, comecei a interessar‐me por psicopatologia mais severa e a forma de trabalhar com estes pacientes dentro do modelo interpessoal. Dei por mim cada vez mais interessado na teoria das relações de objecto, procurando dar conta do que aparecia no meu trabalho. Este modelo não só permitia a regressão mas reverenciava‐a. Por algum tempo tornou‐se a minha nova “verdade”. Em muitos aspectos não estava satisfeito com a escola Britânica, contudo os seus conceitos permitiram‐me dar sentido à nova profundidade e riqueza do meu trabalho, que envolvia a regressão e um uso mais natural do divã. Apesar do repúdio de Sullivan pela regressão ela não me parecia incompatível com a psicanálise interpessoal.

A regressão é algo que ocorre por si própria sob certas condições, sendo uma das principais permitir-se que ocorra. Com muitos pacientes, a única forma da regressão não ocorrer é, se de forma consciente ou inconscientemente a impedirmos, tornando-nos mais interactivos. Em suma, uma abordagem interactiva tende a impedir a regressão. Por sua vez, a regressão pode facilitar uma abordagem interpessoal.

A acção terapêutica da psicanálise não resulta dum acréscimo de informação ao já existente. É necessária uma restruturação. E para esta restruturação é indispensável a regressão. O paciente permite a emergência de estados de regressão e ao mesmo tempo de intensos re-enactments de modos primitivos de pensar, sentir e agir. Quanto maior a regressão permitida pelo paciente mais profunda a re-organização da representação do self.

A regressão terapêutica para Bromberg refere-se a um estado cru de desequilíbrio cognitivo permitido pelo paciente como parte da restruturação progressiva e auto-perpétua do self e das representações de objecto. A nitidez e imediaticidade dos estados regredidos tornam-se a base de uma reorganização activa do self interpessoal. Um aspecto da situação analítica é a criação de um ambiente relacional que permite, em vez de induzir, a regressão terapêutica (Bromberg, 1998, p. 143). Este ambiente permite ao paciente desistir parcialmente do papel de protecção da estabilidade do seu ego porque se sente suficientemente seguro para partilhar a responsabilidade com o terapeuta. Ao fazê-lo, o paciente permite a emergência de estados regredidos, acompanhados por intenso reenactment na transferência de modos de pensar, sentir e agir precoces e por vezes fragmentados. Quanto mais profunda a regressão permitida em segurança pelo paciente, mais rica a experiência e impacto na organização do self. Em casos de dissociação severa, a pessoa está impedida duma individualidade completa e incapaz de sentir‐se real ou de ser criativa e ter um sentido de autenticidade até que essas partes do self pessoal dissociados sejam recontactadas e ligadas. Este processo pode ser visto como uma regressão ao nível da relação de objecto onde a dissociação ocorreu, mas agora num ambiente de confiança através do qual o mundo interno está a ser restruturado pela comunicação interpessoal numa atmosfera segura (Bromberg, 1998, p. 143).

Bromberg enfatiza a importância de ver a psicanálise como uma oportunidade de renascimento psicológico e não como um refazer literal do passado (1998, p. 144). A regressão é metafórica e literal. Só relacionando-se directamente com a criança quando o adulto está regredido, em vez de falar sobre isso com o adulto não regredido, se consegue ter contacto com as partes dissociadas da personalidade e “persuadi-las” a envolverem-se em conversas infantis (Ferenczi, 1930, p. 62). O reconhecimento no sentido de Balint é o meio pelo qual o paciente é persuadido a permitir que o seu interior interaja com o exterior. O analista facilita as condições para que este processo ocorra e para ele (analista) participar nesse processo. Dessa forma é capaz de experienciar o mundo interno do paciente como um acto relacional.

Reconhecer é apenas uma parte do processo. O analista também tem de ser capaz de comunicar a sua compreensão ao paciente. Mas a ênfase aqui não é como na Psicologia do Ego, na correcção da compreensão, mas na importância da capacidade do analista para comunicar a sua sobrevivência como objecto primário a ser usado pelo paciente. É o acto de comunicação e não apenas a correcção da compreensão que é importante. De facto, é a incorreção, o erro do analista que permite ao paciente corrigir e, portanto, recreá‐lo como parte do processo de auto-recriação que constitui a base de crescimento do paciente (Bromberg, 1998, p. 145). Em suma, o paciente não precisa só de insight, mas de uma relação com outra pessoa (1998, p. 146).

Conclusão

A regressão corresponde ao aparecimento de formas primitivas de conduta, depois de já estabelecidas formas mais maduras. Existem muitas expressões da regressão, mas podem-se identificar, segundo Balint, dois tipos: uma regressão com a finalidade de gratificação e uma regressão com a finalidade de reconhecimento.

A natureza da regressão é determinada pelo carácter do paciente, a sua estrutura egoica e a sua doença. Mas também depende da resposta do analista ao paciente em regressão, isto é, da sua contratransferência.

Em algumas análises não ocorrem períodos de regressão prolongada. Noutros casos só não ocorre se o terapeuta a impedir, nomeadamente por um estilo mais interactivo. Portanto, o estilo relacional do psicanalista tem um impacto sobre o que ocorre na sessão, nomeadamente a regressão. Uma questão relevante é se um estilo mais interactivo previne a ocorrência de regressão e simultaneamente de material pré‐edipiano. O modelo ou modelos teóricos que o terapeuta integrou e influenciam as suas crenças sobre o que funciona terapeuticamente também influenciam a ocorrência de regressão. A regressão é relacional. Mesmo que o analista tenha um papel na regressão, ela depende em primeiro lugar da patologia do paciente.

Segundo Balint, através da regressão a um estado indiferenciado, alguns pacientes procurariam o “amor primário”, i.e., serem amados incondicionalmente sem qualquer obrigação de reciprocidade e a partir daí começar de novo. O novo começo significa a capacidade para uma relação de objecto de confiança, sem suspeitas, de entrega, relaxada. O amor primário ou amor de objecto arcaico por parte da criança não contem ansiedades, apenas uma confiança ingénua e entrega sem desconfiança. É um desejo de ser amado pelo objecto com quem não se preocupa e cujos interesses não considera. Este amor é omnipotente, exigente e instável, perante frustração vira ódio. O papel do analista deve corresponder ao do objecto de amor primitivo. Está ali para suprir as necessidades da criança, atento, vigilante, não exigente e não faz notar as suas necessidades, está ali para quando a criança/paciente precisa. A pouco e pouco, o paciente dá conta, compreende e aceita as limitações do terapeuta e renuncia a mudá‐lo, desiste a pouco e pouco das suas formas antigas e automáticas de se relacionar e faz tentativas tímidas de encontrar novas formas, um novo começo.

As ideias de regressão para Winnicott supõem regredir a um estado de indiferenciação com o analista, criando a situação de narcisismo primário e fazendo um novo início. Os pacientes que não tiveram cuidados suficientemente bons numa fase precoce tendem a regredir a fases iniciais e aos processos de desenvolvimento iniciais. Com estes pacientes é mais importante o manejo do setting do que a interpretação. Neste manejo têm importância especial as falhas do analista e a forma como paciente e analista reagem a essas falhas. A forma autêntica como o paciente protesta com as falhas o analista pode permitir-lhe progredir, refazendo o desenvolvimento a partir da falha.

A preocupação excessiva de Freud e da Psicanálise Clássica com os riscos da regressão maligna impediu uma compreensão mais precoce da característica relacional da Psicanálise. A investigação de Ferenczi sobre a contratransferência ficou congelada por várias décadas. A psicanálise relacional, através de Bromberg veio salientar a necessidade da confiança do paciente para se permitir regredir. Só relacionando-se directamente com a criança quando o adulto está regredido e em intensos enactments se consegue ter contacto com as partes dissociadas da personalidade e voltar a liga-las.

Há um pressuposto tanto em Balint como em Winnicott e Bromberg que é necessário voltar ao ponto onde o desenvolvimento foi interrompido. Tanto Balint como Winnicott acreditam num congelamento no momento da falha e na necessidade de regredir ao ponto da falha para em condições especiais recomeçar de novo. Balint parece ter criado as bases e os princípios que Winnicott desenvolveu e descreveu extraordinariamente e Bromberg adaptou à psicanálise relacional.

Notas de Rodapé

1 – Psicólogo/Psicanalista, Rua António Pedro, 127, 3o, Lisboa, Portugal.

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Title

Regression, primary love and new beginning

Abstract

is text is dedicated to Balint regression idea. We begin by describing the experience of Michael Balint with regressed patients. We identify the origin of the concept of regression in Freud and his disagreement with Ferenczi. Balint distinguishes two types of regression: for the purpose of grati cation and for the purpose of recognition. We address the role of the analyst in the form and intensity of the regression of the patient. Later, we describe how the therapist must intervene and what to avoid and the use of the interpretation and relationship. In this context we de ne primary love and new beginning. Finally, we discuss the use of regression to Winnicott, and in current psychoanalysis, particularly in Relational Psychoanalysis of Bromberg.