Revista | Vol. 5, N. 2, Dez 2014

A Retomada do Desenvolvimento

Foi com este título que se lançou o desa o do 2o Congresso Luso‐Brasileiro sobre o Pensamento de Donald Winnicott, realizado em Junho de 2014. A possibilidade de se retomar o desenvolvimento constitui um dos pilares da Psicanálise e a motivação norteadora da prática clínica. Ao longo dos dias do Congresso e das Jornadas Clínicas da AP a ele associadas, procurou‐se pensar o que favorece a retoma do desenvolvimento à luz do pensamento de Winnicott, reforçando‐se a importância da qualidade da relação terapêutica, sublinhada por Coimbra de Matos. A aposta que o terapeuta faz no desenvolvimento do seu paciente e o afecto que nutre por ele concorrem para um aumento da disponibilidade emocional, da tolerância à frustração, da capacidade de identi cação e de ajuste às necessidades emocionais do paciente e da criatividade na abordagem das di culdades daquele. Neste sentido, tal como o bebé não existe sozinho, como refere Winnicott, também o paciente não existe sem alguém que a ele se dedique. Por vezes, esse alguém é o terapeuta. A relação com este constitui a esperança de retomar o contacto com o seu self saudável e autêntico, despir‐se de um falso self, que, emergente para lidar com a patogenia do meio relacional primário, perturba e muitas vezes distorce as escolhas do paciente, impedindo‐o de se apropriar da sua agencialidade ou empoderamento (como sublinha Coimbra de Matos).

Donald Winnicott foi um dos psicanalistas que teve uma profunda in uência em mim e na minha maneira de pensar o bebé e a família. Por isso, o convite do António Pires para, na sequência do Congresso do qual tive o prazer de fazer parte da Comissão organizadora, ser co‐editora deste volume da revista Se Não foi aceite com grande satisfação. Senti‐o como uma oportunidade para contactar directamente com autores que admirava e, ainda, contribuir para, de certa forma, “materializar” a rica partilha de conhecimentos que existiu no citado Congresso.

Foi muito interessante acompanhar o processo criativo dos vários autores ao longo do processo de revisão e melhoramento dos seus artigos, à medida que recebiam os contributos dos revisores e de mim própria. E a todos quero deixar uma palavra de estima e admiração.

Queria, ainda, deixar uma palavra de estima aos autores que viram os seus artigos rejeitados para publicação pelos revisores ou que decidiram retirar a submissão dos seus artigos. Tenho a certeza que, grande parte destes artigos, poderão ser, em tempo mais oportuno, alvo de amadurecimento/ consolidação das ideias neles propostas e serem novamente submetidos.

Os artigos que compõem este volume são, na maioria, resultantes do convite que foi feito aos palestrantes do Congresso e também das Jornadas Clínicas da AP associadas ao Congresso. Apesar dos melhoramentos e acrescentos que foram feitos às comunicações/casos clínicos apresentados aquando do Congresso/Jornadas Clínicas, de forma a puderem ser publicados sob o formato de artigo para revista, na sua maioria constituem um retrato el da dinâmica do Congresso e permitem, aos leitores, recuperar a memória daqueles dias.

Este volume encontra‐se dividido em dois grandes grupos de artigos: uma primeira parte dedicada a artigos que privilegiam a exposição teórica, seja sob a forma de apresentação do pensamento de Winnicott e sua in uência e/ou comparação com o pensamento de outros grandes vultos da Psicanálise, seja sob a forma de desenvolvimento do pensamento do próprio autor assente nos contributos das ideias de Winnicott; e uma segunda parte dedicada à apresentação de casos clínicos, onde a in uência de Winnicott aparece directa e indirectamente.

Penso que sentirão a maioria dos artigos como complementares entre si e de uma leitura agradável e enriquecedora e espero que neles encontrem o espírito de Winnicott.

Catarina Rodrigues