Revista | Vol. 5, N. 2, Dez 2014

A Clínica Winnicottiana das psicoses: a retomada do amadurecimento

Introdução

Em muitas de nossas reuniões cientí cas, qualquer que seja o tema proposto, pode‐se em princípio abordá‐lo sob variadas perspectivas teóricas, mas o que está agora em questão – “A retomada do amadurecimento” – é eminentemente winnicottiano e não há como ser desenvolvido fora da perspectiva traçada pelo analista inglês. Compreendido no título está a ideia de amadurecimento e de que a linha do amadurecimento pode ser quebrada, interrompida, perdida, e de que é possível, ao menos em princípio e sob certas circunstâncias, retomá‐la. A ideia da retomada do amadurecimento envolve uma concepção de regressão, que não é a pontos de xação da libido, mas a de retorno à uma situação de dependência, 

concepção, portanto, fundamentalmente relacional e não intrapsíquica. Em vista disso e do sentido de cura ao qual remete, tal concepção de regressão é não um sinal de doença, como foi quase sempre entendida a regressão na teoria tradicional, mas um primeiro passo na direção da saúde. Estamos, portanto, sem apelo, em território winnicottiano.

Não é o caso, aqui, de examinar os fundamentos da clínica winnicottiana do amadurecimento, e das psicoses em particular, nem a comparar, ponto a ponto, com a clínica psicanalítica tradicional. Ressalto apenas que a compreensão dos distúrbios psíquicos enquanto distúrbios do processo de amadurecimento pessoal do indivíduo, sobretudo quando se leva em conta o fato da dependência inicial, acarreta implicações clínicas que alteram de maneira bastante radical, com relação à psicanálise tradicional, a concepção do setting analítico, da tarefa do analista e do que se entende por cura. Concebido a partir do estudo e tratamento das neuroses, o setting analítico tradicional baseia sua prática na teoria do desenvolvimento das funções sexuais, e supõe um indivíduo já constituído como identidade unitária e capaz de se relacionar com o outro, externo a ele. É toda uma outra perspectiva que se abre quando o setting e a tarefa do analista passam a ser orientados pela teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott, pois, baseada no estudo dos estágios primitivos e das psicoses – o que lança luz sobre os fundamentos da existência –, essa prática visa à compreensão e ao tratamento dos distúrbios psíquicos em geral, devendo, contudo, estar preparado para a emergência de fenômenos esquizoides em todos os tipos de pacientes ou para o tratamento de casos cujas características sejam francamente esquizoides ou borderline.

Para melhor situar a perspectiva a partir da qual Winnicott opera, deve‐se lembrar que ele foi um estudioso, não exatamente do psiquismo, e muito menos do aparelho psíquico, mas da natureza humana. No esforço de compreender a questão propriamente humana, ele recusou o recurso heurístico freudiano a uma dinâmica de forças, pulsional, supraestrutural e intrapsíquica, e, diferentemente disso, observou em detalhe a história real das relações de um indivíduo com seu meio ambiente, desde o início da vida. Tal direção do pensamento deve‐se, provavelmente, a fatores pessoais, de sua própria história, mas também ao atendimento sistemático de bebês, com suas mães, no campo da pediatria, e de adultos psicóticos, em especial dos que puderam regredir à dependência. Foram estas pessoas, e os problemas de que padeciam, relatados na clínica que favorecia a dependência, que possibilitaram a Winnicott vislumbrar aspectos essenciais da existência humana, inacessíveis, diz ele, quando se estuda o indivíduo saudável e mesmo o neurótico.

No início de sua carreira como pediatra, e tendo iniciado sua formação como psicanalista, Winnicott constatou que, enquanto a psicanálise tradicional, buscando abarcar a infância e tratar das psicoses, teorizava sobre crianças de 3, 4 e 5 anos, a propósito da questão edípica, ele assistia bebês muito pequenos que, com apenas algumas semanas de vida, estavam emocionalmente doentes, apresentando‐se já muito assustados, demasiadamente agitados, ou manifestando uma espécie de anorexia, sem que qualquer problema físico fosse detectado. Não era possível, dada a extrema imaturidade dos bebês, atribuir qualquer uma dessas di culdades à hipótese central que vigorava na psicanálise tradicional, a saber, a problemática edípica, triangular, que supõe um alto grau de desenvolvimento, inclusive mental. Deveria, portanto, concluiu ele, haver um campo de problemas, muito primitivo, que escapava ao paradigma edípico.

Diante disso, o esforço teórico de Winnicott foi na direção de explicitar os estágios iniciais da vida dos bebês, a “magia da intimidade” e da comunicação que se desenvolve entre um bebê e sua mãe, quando esta é su cientemente boa, e a natureza especí ca da di culdade com que os bebês têm que lidar nesta etapa primitiva. Ele conectou essas di culdades com aquelas de que padecem os psicóticos em relacionar‐se com a realidade do si‐mesmo, da vida e do mundo externo. Foi nesse período pré‐verbal, pré‐simbólico e pré‐representacional que ele entendeu estarem ancoradas as raízes da saúde psíquica, assim como das muitas formas de impedimento de viver e de sentirem‐se vivos que perturba os psicóticos. A questão que passa a mover o autor era a de saber quais são as condições ambientais que favorecem, ou falham em favorecer, os processos pelos quais um bebê, imaturo e altamente dependente de início, chega a tornar‐se uma pessoa viável, capaz de estabelecer relações com a realidade externa, de achar algum sentido no fato de estar vivo e de ser capaz, razoavelmente, de tomar conta de si mesmo. Se essas condições falham no período inicial, pode acontecer que um indivíduo jamais chegue a constituir‐se como pessoa, e muito menos, portanto, a experimentar como real, e em primeira pessoa, algo tão so sticado como um relacionamento triangular com pessoas externas e, mais especi camente, a situação edípica.

Partindo da concepção de que o ser humano é essencialmente relacional, e tirando todas as consequências da imaturidade do bebê, no início da vida, Winnicott assinala, de maneira decisiva, e em confronto com as principais posições da época que enfatizavam o intrapsíquico, a importância crucial do ambiente, sobretudo do inicial. Ele diz, por exemplo, que os bebês que não recebem cuidados su cientemente bons, no início da vida, “não conseguem se realizar nem mesmo como bebês. Os genes não são su cientes” (1968d/1988, p. 84). Como os cuidados ambientais são um elemento imponderável, há que se considerar o fato de que o processo de alcançar a vida pode falhar, uma vez que o nascimento biológico não coincide com o nascimento ontológico. Há bebês que, sicamente saudáveis, morrem porque não encontram, desde o começo, uma base para ser, para continuarem vivos, sendo. Há outros que não necessariamente morrem: eles “são persuadidos a alimentar‐se e a viver, ainda que a base para esse viver seja débil ou mesmo ausente” (1988/1990, p.127). Nesses casos, o indivíduo cresce mas, apesar de biologicamente vivo e até saudável, não alcança viver ou sentir‐se vivo e real; permanece imaturo num sentido básico, fundamental.

Foi à luz dessas constatações, fornecidas por seus pacientes psicóticos, em especial os que regrediam à dependência, que Winnicott formulou a sua teoria das psicoses e da tendência antissocial, como distúrbios de de ciência ambiental e, a partir daí, reformulou a teoria de outros distúrbios, os psicossomáticos, as depressões, a neurose, as perversões, as paranoias. Enquanto a psicanálise tradicional – e Lacan junto – relacionou a psicose à problemática da castração ou, ao modo de Klein, à pulsão de morte, mas, em qualquer dos casos, vinculada às forças pulsionais, negligenciando o papel do ambiente, para Winnicott o distúrbio psicótico é de outra natureza – é, nas palavras do autor, um distúrbio de de ciência ambiental – e leva a tarefa terapêutica em outra direção. O que falta aos psicóticos, dirá Winnicott, não é propriamente chegar ao princípio de realidade, mas, de maneira mais básica, alcançar um sentido de realidade do si‐mesmo e do mundo em que vivem; suas di culdades e problemas, diz ele, são especialmente a itivos, pois “não fazem parte da vida, mas sim da luta para alcançar a vida [...]” (1988/1990, p. 100). E ainda, em outro texto: “Há pessoas que passam a vida não sendo, num esforço desesperado para encontrar uma base para ser” (1984b[1966]/1987, p. 116).

Não é essa a questão para os neuróticos. Estes, se não há dúvida sobre a consistência de suas experiências iniciais, são indivíduos que tiveram um bom início, alcançaram o sentido de serem unitários e reais, e a capacidade para as relações interpessoais. Talvez adoeçam ao ter que lidar com os con itos que surgem da vida instintiva, em meio às relações triangulares, mas o que surge na análise não é uma dúvida sobre a realidade do si‐mesmo, mas problemas relativos às defesas erigidas contra as ansiedades provenientes da administração da instintualidade, de natureza genital, e da fantasia que dela deriva.

Como os psicóticos, no dizer de Winnicott, “pairam permanentemente entre o viver e o não viver” (1967b/1975, p. 139), não se pode dizer que suas di culdades resultem de con itos intrapsíquicos, os quais apontariam para o “profundo”, para material censurado reprimido no inconsciente; tais di culdades pertencem ao domínio do “primitivo”, consistindo bem mais de uma inconsistência básica que corrói todo senso de realidade. A despeito de se apresentarem e de serem, muitas vezes, pessoas capazes de lidar com as exigências da vida, devido à formação precoce de um falso si‐mesmo que promoveu uma integração arti cial e se apresenta como real, são indivíduos cujas experiências iniciais foram tão de cientes ou distorcidas que o analista terá que ser a primeira pessoa na vida do paciente a fornecer certas coisas que são essenciais e que só podem ser oferecidas pelo que se chama ambiente su cientemente bom. O paciente não tem propriamente uma história, pois as descontinuidades traumáticas a que foi exposto quebraram, repetidas vezes, a sua continuidade de ser, tornando seu passado fragmentado e difícil de recompor temporalmente.

Um paciente meu, adulto relativamente jovem, que vivia uma total desesperança com relação à possibilidade de a vida fazer algum sentido e de haver comunicação efetiva entre pessoas, disse‐me certa vez: “Fui socializado antes de me tornar uma pessoa. Sei e cumpro muito bem o que se espera de mim, mas nada, jamais, fez qualquer sentido. Sempre me senti isolado, do lado de fora da província humana; não me sinto real, não sinto o mundo ou os outros reais. Não tenho história. Não sei por que vivo ou continuo vivendo”. Esse homem não tinha problemas com o princípio de realidade, mas padecia da falta do sentido de real.

Desde essa perspectiva, é natural que sejam cruciais as diferenças no setting analítico e na tarefa terapêutica caso o paciente seja neurótico ou psicótico. No que se refere ao método, por exemplo, a interpretação que é necessária ao paciente neurótico para elucidar os conteúdos inconscientes reprimidos pode ser, no caso do psicótico, altamente invasiva e, extrapolando a sua capacidade maturacional, repetir o padrão de fracasso ambiental, na medida em que o ambiente falha na comunicação pessoal e se mostra incapaz de identi car‐se com o paciente. Além disso, uma interpretação no sentido tradicional pode se constituir em invasão traumática por destacar, antes do tempo, a existência externa e separada do analista e, além disso, por remeter a um eu que ainda não está lá para ser encontrado. Nos casos de psicose, a ênfase do tratamento recai sobre o manejo da situação clínica, em especial se o paciente se encontra em estado de regressão à dependência e só pode se relacionar com o analista enquanto objeto subjetivo.

A regressão à dependência

Tendo em vista a natureza da psicose e a necessidade do paciente que dela padece, Winnicott a rma, de maneira bastante incisiva, que, no caso das patologias psicóticas, caso se queira chegar ao problema efetivo do paciente, a regressão à dependência é necessária.

Mas, como se sabe quando um paciente necessita regredir à dependência? O paciente começa a apresentar uma suscetibilidade aguda com relação à qualidade da presença/ausência do analista; começa, além disso, a usar a provisão especial que este lhe fornece para, mesmo que momentaneamente, tornar‐se dependente, desintegrado ou fora de contato, para enlouquecer, como mostrarei adiante, ou para deixar‐se estar em estado de amor a, de um modo que não lhe foi possível no início da infância, quando o estado a que tinha direito era o da não‐integração, o que só é possível em condições de dependência máxima (1963c/1983, p. 205).

E o que é preciso fazer para permitir a dependência, caso ela se revele uma necessidade? A resposta é que não há nada de especí co a fazer a não ser o oferecimento de um setting analítico cuja característica central é a con abilidade, capaz de prevenir imprevisibilidades e de estar preparado para receber e cuidar, sem susto, da fase regressiva que venha a surgirI. Se a necessidade do paciente é a de retornar ao ponto em que seu amadurecimento pessoal foi paralisado, sendo dadas as condições especiais do setting, de con abilidade e consistência pessoal do analista, ele regredirá. Assinalo ainda que, ao dispor‐se a cuidar de uma regressão à dependência, o analista deve estar disposto a suspender, por tempo indeterminado, o uso de seu so sticado e intrincado saber psicanalítico, que foi sempre seu instrumento de trabalho, para ater‐se, não aos interessantíssimos nexos simbólicos que podem ser traçados a partir da interpretação do inconsciente na transferência, mas ao mais simples, ao detalhe especí co que o paciente traz ou do qual necessita. No que se refere aos psicóticos, é preciso dizer que o mais dedigno instrumento de trabalho é a própria pessoa do analista, seu interesse pessoal pela pessoa do paciente e sua capacidade de identi car‐se com este.

E a que serve propriamente a regressão à dependência? A necessidade mais geral é refazer um começo que, de tão insatisfatório, não foi capaz de possibilitar, ao indivíduo, o sentimento de que a vida vale a pena ser vivida. Mais especi camente, essas pessoas precisam retornar a um momento anterior ao trauma, para resgatar o o perdido da esperança e da espontaneidade; precisam ainda, uma vez regredidas, poder experimentar, talvez pela primeira vez em suas vidas, e durante o tempo necessário, a sustentação dada por um ambiente regular, previsível, de tal modo que, con ando aos poucos na sustentação, elas possam, com o tempo, adquirir a capacidade de “acreditar em...”, de “poder contar com...” e então, a partir dessas condições favoráveis, poder retomar a linha do amadurecimento.

Tudo isso está longe de ser fácil. Em geral, essas pessoas não viveram essa experiência de con abilidade ou a viveram de modo tão de ciente que não têm registro experiencial dessa sustentação; ao contrário, abrigam em si o temor permanente de desintegrar‐se, de “cair para sempre”; ou a viveram e ela lhes foi repentinamente tirada, e elas não mais podem con ar, nem podem se permitir alguma esperança, porque esta é a vizinha imediata da decepção. Tais pessoas, no mais das vezes, passaram a vida se autossustentando ou vivendo na cabeça, ou se equilibrando de alguma forma numa falsa integração, que está sempre ameaçada de ruir. Podem até saber, intelectualmente, o que signi ca “contar com”, mas isso tem muito pouca validade.

Para que a experiência de con abilidade se estabeleça, é preciso, às vezes, muito tempo e é por isso que, segundo Winnicott, há casos em que a única coisa a fazer é esperar, esperar e esperar (cf. 1965o[1958]/2005, p. 80). Naturalmente, há uma qualidade nessa espera e uma delas é o analista não se desesperar: o paciente, em virtude do medo imenso de começar a con ar, faz tudo para que desanimemos de modo que ele possa con rmar sua desesperança, refugiar‐se de novo na organização defensiva, da qual já se tornou expert, e abandonar a luta. Há que se vencer vagarosamente a descon ança e toda a autossustentação que ela implica, sem apelar para a compreensão intelectual do indivíduo. A outra qualidade da espera é não tentar “curar” o paciente. Ele saberá imediatamente que tememos o seu estado e não o seguramos do modo como ele está. A tarefa do analista é a de, silenciosamente, fornecer con ança. Uma paciente minha, que se sentava diante de mim, quis pôr no encosto da poltrona uma almofada na e bem rme que estava disponível na sala de atendimento, devido a um problema recente na zona lombar. Na sessão seguinte, notei que ela teve uma ligeira decepção em não encontrar a almofada no lugar em que a pusera. Depois disso, estar a almofada lá era o sinal de que eu a estava esperando, que havia pensado nela e que preparara o seu lugar. Nunca precisamos falar sobre isso, mas eu cuidei que a almofada lá estivesse quando era o seu horário. Foi só quando melhorou que pôde me falar o quanto havia sido importante contar com esse gesto e cuidado.

O trauma primitivo: as agonias impensáveis

Mas há ainda um outro aspecto acerca da necessidade que o paciente psicótico tem de regredir à dependência: diz respeito ao fato de que, nas condições especializadas do ambiente terapêutico, e experienciando a con abilidade do analista, o paciente vê‐se compelido a chegar à “loucura original” que nele habita sem ter sido propriamente experienciada. Explico: essa “loucura original” foi o fragmento de segundo em que o indivíduo, quando bebê, sofreu uma interrupção traumática da linha da existência, ou seja, perdeu momentaneamente a linha do ser em função de uma reação à falha ambiental. Em termos técnicos, ele sofreu uma agonia impensável. Cito Winnicott: “A morte para um bebê nos estágios iniciais signi ca algo bem de nido, ou seja, a perda do ser em razão de uma reação prolongada contra a intrusão ambiental” (1988/1990, p. 156; os itálicos são meus).

Os bebês que sofreram interrupções traumáticas da linha do ser têm um prejuízo concreto muito difícil de reparar; carregam consigo, sem nenhuma consciência disso, agonias impensáveis: a memória latente, irrecuperável pela representação, de um desastre ocorrido com o seu eu (num momento em que ainda não havia um eu) e toda a sua vida dali para frente ca inconscientemente orientada no sentido de evitar a repetição do colapsoII. Em geral, eles se sentem esquisitos e têm pavores que não conseguem compreender.

Um exemplo de trauma primitivo – ou seja, de agonia impensável – é dado quando Winnicott assinala o fato de a realidade psíquica pessoal de um bebê pequeno ser ainda bastante frágil, o que signi ca que ele não é ainda capaz de manter vivo, em si mesmo, por tempo demasiado, o sentimento da presença da mãe e o de ele mesmo habitar num corpo. Diz Winnicott que, se a mãe se ausenta x tempo, o bebê ca inquieto; se ela se ausenta x + y, ele ca a ito; mas se ela se ausenta x + y + z de tempo, o sentimento de ela existir morre para o bebê e ele ca sem nada; cai numa espécie de vazio ou de irrealidade.

Uma das experiências que tive de atender a uma longa regressão à dependência foi com um paciente, com cerca de 40 anos, cujo lar na infância fora decididamente caótico. Durante alguns anos, no início da análise, era‐lhe muito difícil suportar o intervalo dos ns de semana. Em algum momento dessa fase, ele me relatou que, nesse intervalo, ele vivia, às vezes, momentos terríveis: perdia o contato comigo e consigo mesmo, e a realidade do que vivíamos ali na sessão tornava‐se longínqua e irreal, como se nunca tivesse existido. “No sábado”, diz ele, “as coisas ainda existem, embora um pouco irreais, mas no domingo à tarde, perco tudo: é como se eu fosse lançado num vácuo, onde nada existe, o tempo parou e co preso nesse lugar; não há nenhuma lembrança a que me agarrar, nenhuma realidade que faça sentido, e carei ali eternamente”. Foi com esse paciente que aprendi que não era exatamente de mim, como pessoa diferenciada, que ele sentia falta no nal de semana. Tal como o bebê, ele precisava de mim, da minha presença viva e receptiva junto a ele, precisava ser visto por mim para entrar em contato consigo mesmo e ganhar realidade. Sem a minha intermediação, ele se perdia de si.

Winnicott distingue sete tipos de agonias impensáveis, como que para resguardar algumas especi cidades, mas o mais certo é que elas todas se pertencem e surgem em conjuntoIII. É difícil pôr em palavras o que são essas agonias, mas se pode certamente a rmar que não se trata de angústias pela perda do objeto ou pela perda do amor do objeto, uma vez que, no momento inicial, ainda não há objeto para ser perdido nem afetos con gurados. Na verdade, não há nem mesmo um “sujeito” para sofrer alguma perda. Estas, quando delas se trata, constituem angústias pensáveis, como o são as angústias de castração. As agonias ditas impensáveis ocorrem num momento em que ainda não há nenhum si‐mesmo unitário (um “eu”) que possa fazer disso uma experiência pessoal. Algo acontece – ou exatamente não acontece quando deveria ter acontecido – que obriga o bebê a reagir e, com isso, há uma quebra da continuidade de ser, mas o bebê, que ainda não existe como um si‐mesmo unitário estabelecido, sofre o trauma sem, no entanto, poder abarcá‐lo na experiência. Vê‐se, contudo, lançado num estado confusional e/ou de irrealidade, que, apesar da gravidade, pode ser imperceptível para o observadorIV.

Imediatamente após o trauma, erige‐se uma cisão defensiva: enquanto o si‐mesmo verdadeiro, que é a sede da espontaneidade, recua, cando isolado e inacessível, uma outra parte da personalidade se organiza de maneira falsa, pois defensivamente integrada a partir dos padrões ambientais, e assume a tarefa de lidar com o mundo externo, adaptando‐se às exigências e protegendo, desse modo, o verdadeiro si‐mesmo, para que este não seja novamente atingido. Em torno da cisão, defesas mais especí cas se organizam no sentido de alcançar uma espécie de invulnerabilidade, visando prevenir, para sempre e a qualquer custo, o retorno da agonia impensável. Aqui se forma um sistema defensivo que é, em suma, no que consiste a psicose para Winnicott.

O indivíduo, que de qualquer modo continua a crescer física e intelectualmente, vive a partir da casca, e não do cerne, e pode até “alcançar uma integração ilusória e falsa, ou seja, uma falsa força de ego, construída a partir de padrões do ambiente...” (1956a/1983, p. 395). Tornando‐se puramente reativo e desprovido, portanto, do impulso criativo, o indivíduo não alcança viver ou sentir‐se vivo; a despeito do sucesso que possa ter em sua vida pro ssional e social, o indivíduo permanece imaturo num sentido básico, fundamental. Como nenhuma experiência é vivida em primeira pessoa, instala‐se um permanente sentimento de inutilidade da vida. Viver torna‐se uma tarefa permanente de evitar o imprevisível. Esses indivíduos andam pelo mundo, dando muitas vezes a impressão de completa normalidade, mas ainda não existem como pessoas; são como que não‐nascidos. Franz Kafka, que, ao que tudo indica, conhecia de perto essa situação, escreveu em seu diário: “Não ter nascido ainda e ver‐se já obrigado a passear pelas ruas e a falar com as pessoas” (Kafka, 1985, p. 554).

É para esse estado de coisas que Winnicott alerta o analista quanto à possibilidade de este se enganar, pois o que se apresenta na clínica, e que aparenta no mais das vezes ser uma neurose, com novela familiar e tudo, nada mais é do que o ambiente internalizado. É nesses casos, a rma o autor, que conseguimos mais êxito:

ao reconhecer a não‐existência do paciente do que ao trabalhar longa e continuadamente com o paciente na base de mecanismos de defesa do ego. [...] Esse trabalho infrutífero só é encurtado com êxito quando o analista apontar e especi car a ausência de algum aspecto essencial: “Você ainda não tem boca”, “Você ainda não começou a existir”, “Fisicamente você é um homem, mas não sabe, por experiência, nada sobre sua masculinidade”, e assim por diante. Esses reconhecimentos de um fato importante, tornados claros no momento exato, abrem caminho para a comunicação com o si‐mesmo verdadeiro. (1965m[1960]/1983, p. 139)

O medo do colapso

O que nos chega na clínica é esse sistema defensivo altamente organizado e rigorosamente mantido. Por trás de todas as defesas, existe uma ameaça permanente de confusão, de desintegração. Em certos casos, passam‐se anos até que se consiga um pequeno afrouxamento da organização defensiva; em outros, aparecem brechas no sistema, em geral sob a forma de um fenômeno de alta complexidade, que Winnicott chama de “medo do colapso” (fear of breakdown): o paciente relata sentir‐se permanentemente ameaçado por um perigo que o espreita na próxima esquina; há sempre um desastre eminente à sua espera: morte, loucura, cegueira, vazio, desorganização, empobrecimento irremediável. O termo “breakdown” foi escolhido por ser vago o su ciente para abranger as várias modalidades do medo, mas a expressão fear of breakdown aponta para o fato de que o indivíduo vive ameaçado pela potencial desintegração da organização defensiva falsamente erigida.

A questão difícil e complexa de ser pensada consiste em que, ao mesmo tempo em que toda a vida do indivíduo é inconscientemente organizada para evitar a repetição do ocorrido, é preciso dizer que o desastre não aconteceu propriamente, ou como diz Winnicott: “essa coisa do passado ainda não aconteceu porque o paciente não estava lá para que acontecesse” (1974/1994, p. 74). “Não estava lá” signi ca que o indivíduo ainda não existia como um “eu” que pudesse fazer propriamente a experiência do trauma, em primeira pessoa.

Sendo da ordem do impensável, por ocorrer previamente ao início do funcionamento intelectual e também por não ser passível de representação, o trauma original não tem como ser recordado; não pode, portanto, ser buscado como se estivesse perdido ou des gurado nas dobras do inconsciente reprimido; os analistas não podem esperar encontrá‐lo como resultado do trabalho que reduz as forças de repressão, pois não se trata de material censurado.

O paciente, contudo, precisa aproximar‐se dessa “loucura” que nele habita, e, como não a pode recordar, terá que a reviver, pois, diz o autor, as agonias impensáveis não podem chegar a pertencer ao passado a menos que possam ser experienciadas pela primeira vez no presente. Isso signi ca que o paciente precisa atualizar o trauma, trazê‐lo para o presente e revivê‐lo, e ele o fará – uma vez tendo retornado, por via de uma regressão à dependência a um momento anterior ao trauma, e sendo‐ ‐lhe oferecida a experiência de alta con abilidade do setting – usando uma falha qualquer do analista – e, como humanos e imperfeitos que somos, ela sempre acontece –, uma falha que possa agora, reproduzindo a falha ambiental original, ser experienciada, pela primeira vez, e percebida, com a ajuda do analista, como falha do ambiente. Note‐se que, aqui, a falha do analista, que às vezes é maximizada pelo paciente de maneira delirante (delusional), assim o é por ser uma falha relativa à dependência, ou seja, relativa à extrema suscetibilidade em que o paciente se encontra. Uma falha grosseira e inteiramente objetiva não vale para esta nalidade). Se o analista sobrevive ao enfrentamento e não se defende, mas recebe e leva em conta o sentimento expresso pela queixa e pela acusação que o paciente lhe faz, este poderá, pela primeira vez, ter raiva, zangar‐se e assim responsabilizar, por meio do analista, o ambiente original que impediu a continuidade de seu processo de amadurecimento. Naturalmente, isso só pode acontecer nas condições especiais de um setting analítico no qual, em virtude de se ter construído um alto grau de con abilidade, o paciente se permite, com o suporte do analista, a loucura que só é permitida aos bebês.

Tudo isto, diz Winnicott, tem em si o germe da cura. É um processo de autocura que necessita, no entanto, da ajuda do analista (1963c/1983, p. 205). Este, naturalmente:

fica perplexo por descobrir que o paciente é capaz de car cada vez mais louco, durante alguns minutos ou por uma hora no setting do tratamento, e, às vezes, a loucura se espalha por sobre os limites da sessão. Exige considerável experiência e coragem saber onde se está, nessas circunstâncias, e perceber o valor que tem, para o paciente, chegar cada vez mais próximo de X [a loucura original] que pertence a este paciente individual. Entretanto, se o analista não for capaz de olhar para isto desta maneira – mas, por medo, por ignorância ou pela inconveniência de ter em suas mãos um paciente tão enfermo, ele tende a desperdiçar estas coisas que acontecem no tratamento – ele não poderá curar o paciente. Ele constantemente se descobre corrigindo a transferência delirante (delusional) ou, por uma maneira ou outra, trazendo o paciente de volta à sanidade, ao invés de permitir que a loucura se torne uma experiência administrável, da qual o paciente possa efetuar uma recuperação espontânea. (1989vk[1965]/1994, p. 101)

Um pouco antes, nesse mesmo texto, encontra‐se a a rmação de que, se num caso como esse, aborda‐se a situação com uma premência psiquiátrica de curar, “a nalidade do colapso perde‐se por completo já que, ao enlouquecer, o paciente persegue uma nalidade positiva e seu colapso não é tanto uma doença senão um primeiro passo em direção à saúde” (1989vk[1965]/1994, p. 99).

Seja como for, é importante lembrar que, se o indivíduo é capaz de aproximar‐se clinicamente da agonia impensável, é porque já há ali uma certa organização de ego, ou, melhor dizendo, um si‐mesmo cujo nível de integração torna‐o capaz de abarcar e elaborar esses traumas primitivos.

O analista e a regressão à dependência

Winnicott diz que, em nosso trabalho terapêutico com pacientes psicóticos, temos às vezes dúvidas sobre ser a bondade ou a maldade o que nos motiva, pois, muitas vezes, precisamos tornar doentes pessoas que são bem‐sucedidas, que funcionam bem em suas vidas e em suas famílias, e temos que as deixar doentes ao menos por um período de tempo; como parte do tratamento, o paciente terá que passar por um colapso, ou seja, pela quebra da organização defensiva arti cial na qual ele passa a vida se equilibrando. Nesses casos, o analista precisará ser capaz de exercer o papel de mãe para o lactente do paciente.

Winnicott ilustra este ponto com o caso de uma mulher de 40 anos, sua paciente, que havia se tornado uma vitoriosa executiva no mundo dos negócios, desprezava os homens e dedicara a vida a provar que nada lhe faltava. E, nalmente, diz o autor, “com o passado sendo todo apagado, esta pessoa muito doente, com um falso si‐mesmo bem‐sucedido, veio fazer tratamento. Ela veio para poder ter um colapso, para encontrar sua própria esquizofrenia, no que foi bem‐sucedida” (cf. 1965l[1960]/2005, p. 98). Winnicott entrou em contato com o médico que a acompanhava e lhe disse “que se o tratamento andasse bem, ela entraria em crise e precisaria de cuidados” (cf. 1965l[1960]/2005, p. 99).

Assim como para o cuidado da mãe su cientemente boa, também para o cuidado terapêutico, em especial o que se ocupa de uma regressão à dependência, a palavra‐chave é con abilidade. Para dar a dimensão da con abilidade que é necessária ao trabalho terapêutico, Winnicott a rma que, no trabalho analítico, cuidamos de ser con áveis num sentido que só podemos sustentar no espaço estrito de nosso trabalho pro ssional. Pela con abilidade, protegemos nossos pacientes do imprevisível, tanto com relação ao ambiente geral quanto na consistência em sermos nós mesmos e continuarmos a sê‐lo em meio às inúmeras variações a que a relação está sujeita pela própria vida e pelo próprio movimento e crescimento do paciente. Pela con abilidade, estamos ainda atentos para que toda ação terapêutica seja guiada pela necessidade do paciente, e não pela do analista ou da sua teoria.

Isso tudo está relacionado com o valor de sobrevivência do analista. No vocabulário clínico de Winnicott, con abilidade e sobrevivência são duas palavras que se intercambiam. Um aspecto essencial da sobrevivência é não trair o pacto silencioso da dependência. O inadmissível é permitirmos ao paciente que ele mostre a sua imaturidade e, de repente, agrarmos a dependência, interpretando‐a como se se tratasse de uma infantilidade a ser superada. Ou seja, no momento em que o bebê do paciente aparece para mostrar a dor e o medo, no mais das vezes desprovidos de lógica, falamos com o adulto que ali está a nossa frente apontando para dados da realidade. Isso seria uma traição, o exato avesso da con abilidade.

Notas de rodapé

1 – Versão modificada da comunicação com o mesmo título, pronunciada no II Congresso Winnicott Luso‐Brasileiro: A retomada do amadurecimento, Lisboa, 20 e 21 de Junho de 2014.
2 – Psicanalista, doutora em Psicologia Clínica pela PUCSP. Fundadora e presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana, Diretora de ensino e formação dessa sociedade. Autora dos livros A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott e de Sobre a con abilidade e outros estudos.

Notas Finais

I ‐ Sobre a questão da con abilidade no setting analítico, cf. Dias, 2011.

II ‐ Naturalmente, o conceito de inconsciente que aqui se necessita não é o inconsciente reprimido da psicanálise tradicional, formação demasiadamente so sticada para o fenômeno que está em pauta. Pode-se falar, como algumas vezes diz Winnicott, de inconsciente primário ou originário, no sentido de que este diz respeito a experiências que são anteriores ao funcionamento mental e, portanto, ao que não é passível de representação, e ainda porque tende ao esquecimento e não à repressão. Loparic cunhou a expressão “inconsciente não‐acontecido”, relativo aos traumas, que é quando algo deveria ter acontecido, a saber, uma resposta ao gesto espontâneo do bebê, e não aconteceu; repetidas vezes, o gesto caiu no vazio.

III ‐ Encontra‐se a menção de 5 tipos de agonias impensáveis no texto O medo do colapso (cf, 1974/1994, p. 72) e alguns desses tipos estão repetidos em outros textos. São elas: medo do retorno a um estado de não‐integração, de cair para sempre, da perda da coesão psicossomática, da perda do sentido de real e da perda da capacidade para relacionar‐se com objetos. Achei 2 outros tipos, ligeiramente distintos dos 5 anteriores; o primeiro, referido ao medo de um “completo isolamento devido à inexistência de qualquer forma de comunicação” (1968d/1998, p. 88) e o segundo, que é o medo de uma total “ausência de orientação” (1968c[1967]/1994, p. 155).

IV ‐ O fato de esse tipo de trauma primitivo ser imperceptível para o observador torna discutível o liame estreito que muitas vezes se tece entre a teoria winnicottiana e a técnica de observação de bebês de Esther Bick.

Referências Bibliográficas

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Title

Winnicottian’s clinic of psychosis: the resumption of maturation

Abstract

The understanding of psychic disorders as disorders of the individual’s personal maturation process, taking into consideration the fact of initial dependence, entails clinical implications that change the conception of the traditional analytical setting and of the analytical task. Highlighting meaningful di erences between the traditional analytical setting, which theoretical frame is given by Freudian’s psychosexual development theory and the setting that is oriented by maturation’s theory, created from the study of primitive stages and of psychosis, the study approaches central aspects of winnicottian clinic of psychosis, in special, the concepts related to the unthinkable agonies, the fear of collapse and the therapeutical use of the analyst’s aw.

Keywords

Winnicott • psychosis • analytical tasks • unthinkable agonies • fear of collapse • analyst’s flaw.