Freud definiu a psicanálise como “qualquer método terapêutico que reconheça a importância da resistência inconsciente, da transferência e das raízes genéticas infantis da neurose”.
As mais amplas e variadas aplicações da psicanálise ao tratamento de outras alterações psicopatológicas, a introdução de outras teorias psicanalíticas, as diversas intenções de modificar o setting terapêutico, fizeram com que seja cada vez menos restrita a distinção entre psicanálise e psicoterapia psicanalítica.
Nestas últimas décadas, em todo o mundo, a psicoterapia psicanalítica teve um grande incremento dado que a compreensão analítica de certas patologias que, anteriormente, foram consideradas fora do âmbito do campo de acção terapêutica da psicanálise, veio permitir ajustar o conhecimento psicanalítico a uma técnica mais adequada e adaptada a responder terapeuticamente às manifestações dessas patologias.
A psicoterapia psicanalítica usa a mesma base teórica da psicanálise e estuda todos os seus autores, constituindo-se igualmente como um instrumento que facilita o autoconhecimento, a ampliação do campo do pensamento, a transformação pessoal e a busca de um sentido de vida.
A psicoterapia psicanalítica não é uma forma menor da psicanálise, mas uma modalidade clínica, requerendo um terapeuta experimentado e capaz de trabalhar em condições, por vezes, mais difíceis do que aquelas em que se desenvolve a psicanálise. O psicoterapeuta psicanalítico pensará analiticamente, mas a forma de contacto com o paciente será outra, até porque o próprio processo se desenrola de forma diferente na análise clássica – por exemplo, o tempo da sessão parece mais denso, o ritmo é mais acelerado, o silêncio pode ser mais pesado do que numa sessão de análise. O paciente, de certo modo, espera um pequeno resultado de cada sessão, obrigando o terapeuta a um pensamento mais concentrado e menos associativo do que em psicanálise. Seria assim uma espécie de modulação da psicanálise clássica.
Todo o trabalho clínico deve ser precedido por uma formação extensa e exigente, baseada no processo psicanalítico pessoal do terapeuta, na elucidação e elaboração dos seus conflitos básicos e no estudo rigoroso da teoria que lhe servirá de instrumento para pensar, bem como no trabalho e supervisão clínica. É nesta dinâmica que se deve basear qualquer trabalho psicoterapêutico e respectiva supervisão. O psicoterapeuta dispensa certos elementos do setting da psicanálise, continuando a pensar na sua língua materna (paradigma psicanalítico), mas expressando-se numa espécie de dialeto daquela (técnica adaptada).
Tal como na formação em psicanálise, a formação em psicoterapia psicanalítica assenta nos três pilares da formação. Privilegiando a evolução interna indispensável a quem pratica a psicanálise ou a psicoterapia psicanalítica, a AP considera que é indispensável que a formação assente nas formações teórica e clínica e no processo psicanalítico pessoal, de modo a poder transmitir a cada associado em formação, através dos conhecimentos teóricos e clínicos, um saber-fazer prático e, acima de tudo, um “saber ser”.