Psicanálise

A psicanálise é a ciência que investiga a interacção dos processos conscientes e inconscientes e tem como fim a descoberta e a formulação das leis sobre a função do sistema mental. Tem origem no trabalho de Breuer e Freud.

Freud foi o primeiro a compreender que as comunicações do paciente, aparentemente carentes de sentido, podiam ser traduzidas se tratadas como derivados codificados do inconsciente, reconhecendo a importância dos conflitos internos infantis no funcionamento psicológico humano. A partir da descoberta dos processos psicanalíticos inconscientes, Freud, em 1922, definiu a psicanálise a partir de três níveis distintos mas em permanente articulação entre si:

  1. Como um procedimento que permite uma investigação rigorosa dos processos psíquicos inconscientes, através da associação livre de ideias que, utilizado no quadro específico da situação analítica, se torna na “regra fundamental” que convoca o paciente, durante a sessão, para dizer tudo o que lhe vem ao espírito. É neste contexto que aparecem e se organizam os fenómenos centrados na relação transferencial com o analista que constituem a base do processo analítico;
  1. Como um método de tratamento de um certo leque de desordens psíquicas, nomeadamente neuróticas. A dimensão terapêutica da cura psicanalítica deriva, indirectamente, das transformações psíquicas induzidas pelo processo e pelas tomadas de consciência que esse processo implica no paciente: a modificação da relação do Eu e do Inconsciente que, para além do alívio do sofrimento psíquico que produz, se traduz por uma capacidade acrescida para amar e para trabalhar. Os outros tratamentos psicanalíticos são mais ou menos derivados deste modelo, mas adaptados em função da adequação à diversidade clínica.

  2. A psicanálise tornou-se, também, numa teorização que organiza os conhecimentos oriundos da experiência prática que, em retorno, ela inspira. Como esta teorização diz respeito, essencialmente, ao que está para além da consciência que é a realidade psíquica inconsciente, Freud designou-a de Metapsicologia e considerou que a teoria analítica se emancipa da experiência da cura, interessando-se e aplicando-se ao conjunto dos fenómenos humanos onde o inconsciente está implicado.

A psicanálise reúne, assim, sem os confundir:

– O método de investigação exigido pelas características do inconsciente;
– A acção de transformação efectiva inerente ao processo psicanalítico e que vai para além de uma perspectiva estritamente terapêutica;
– A teorização, em simultâneo, restrita pela sua especificidade e, contudo, aberta a todas as disciplinas que dizem respeito ao homem.

A psicanálise é a análise do psíquico para evidenciar os seus elementos constitutivos e processos operativos. Ciência e técnica desenvolvida a partir da obra seminal de Freud, expande-se na relação interdisciplinar com outros saberes, que vão da arte e antropologia à física quântica e neurociência, e aprofunda-se pela micro-análise das relações precoces e pelo estudo sistemático do processo de mudança na cura analítica.

Hoje em dia, pode definir-se a psicanálise enquanto método de tratamento e auto-conhecimento. No entanto, as características específicas da função analisante viabilizam que o indivíduo possa dar continuidade a esse trabalho, em autoanálise, depois de terminado o tratamento.
A teoria geral da psicanálise tem vindo a evoluir gradualmente, introduzindo modificações e alterações progressivas conforme se realizam e organizam novas observações, novas teorias e novos modelos.